domingo, 9 de outubro de 2011

Soneto do Amor Total


Faz tanto tempo que não escrevo aqui... Na verdade (e me desculpo por isso), esse blog se tornou um lugar de desabafo, por mais escondido e fantasiado que esteja esse desabafo. Os textos, tenho que confessar, são mais pessoais do que eu gostaria de admitir e há tempos que venho querendo escrever algo aqui, mas sempre que tento acaba saindo algo quase que repetido, ou apenas explícito demais pra ir a público. 


Hoje, no entanto, minha vontade de escrever é grande demais para ser guardada só para mim, e por mais evidente que possa ficar tudo o que há por trás destas palavras, eu não me importo, pois achei-as demasiado belas para ficarem escondidas. E ainda mais, os que amam sempre tem um espírito aventureiro e decisivo dentro de si, este mesmo que às vezes resolve tudo, e outras põe tudo a perder. Pois é movida por esse mesmíssimo espírito aventureiro que vou escrever sobre o "Soneto do Amor Total" do Vinicius de Moraes.
O soneto é tão simples... É quem sabe dentro dessa simplicidade que se esconde a beleza dos versos decassílabos, destinados apenas e tão completamente a descrever a totalidade de um amor entregue e verdadeiro.
O amor tratado no poema é puro e sem reservas. O eu lírico apenas ama, e não espera nada em troca... E foi isso que me levou a escrever esse texto, tão inconsequente e encharcado de pistas bobas e inúteis, próprias de um espírito irresponsável e adolescente que me toma todas por vezes, e sempre por culpa de uma mesma pessoa... Pistas infantis que apenas em minha fértil imaginação irão surtir algum efeito. 
Pois bem leitor, já me desviei tanto do poema do Vinícius que agora nem sei como retornar a ele, no entanto sua beleza é tamanha que não deve ser ignorada. Segue abaixo também um vídeo com o mesmo poema, lido por Maria Bethânia, é, em minha opinião, a mais bonita interpretação do mesmo que existe. Peço que vejam o vídeo, leiam o soneto e me perdoem pelos rumos que este texto tomou. 


Soneto do Amor Total

Amo-te tanto, meu amor... não cante
O humano coração com mais verdade...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade

Amo-te afim, de um calmo amor prestante,
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.

Amo-te como um bicho, simplesmente,
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.

E de te amar assim muito e amiúde,
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.



Rio de Janeiro, 1951




quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Paratodos

Olá pessoal! Hoje eu vou escrever sobre uma música do Chico Buarque intitulada "Paratodos". 

Essa música é, segundo Wagner Homem, fruto de uma crise de idade que o compositor teve ao completar 50 anos, na qual ele cantarolava: "Vou fazer 50 anos/ Sou artista brasileiro/ Sou do Rio de Janeiro". É também uma brincadeira com o hábito que Tom Jobim tinha de discorrer sua genealogia, dizendo: "O meu pai era gaúcho, o meu avô era de Leme, em São Paulo, o meu bisavô era cearense, e eu sou até primo de Vinícius!". 
A música discorre também uma genealogia, porém a de Chico: "O meu pai era paulista/ meu avô, pernambucano/ o meu bisavô, mineiro/ meu tataravô, baiano". O compositor coloca ainda o amigo Tom Jobim (Antonio Brasileiro) no alto da "árvore genealógica" no papel de maestro soberano, ao lado de outros artistas, "parentes". 
Segue a letra e o vídeo:


Paratodos

"O meu pai era paulista
Meu avô, pernambucano
O meu bisavô, mineiro
Meu tataravô, baiano
Meu maestro soberano
Foi Antonio Brasileiro

Foi Antonio Brasileiro
Quem soprou esta toada
Que cobri de redondilhas
Pra seguir minha jornada
E com a vista enevoada
Ver o inferno e maravilhas

Nessas tortuosas trilhas
A viola me redime
Creia, ilustre cavalheiro
Contra fel, moléstia, crime
Use Dorival Caymmi
Vá de Jackson do Pandeiro

Vi cidades, vi dinheiro
Bandoleiros, vi hospícios
Moças feito passarinho
Avoando de edifícios
Fume Ari, cheire Vinícius
Beba Nelson Cavaquinho

Para um coração mesquinho
Contra a solidão agreste
Luiz Gonzaga é tiro certo
Pixinguinha é inconteste
Tome Noel, Cartola, Orestes
Caetano e João Gilberto

Viva Erasmo, Ben, Roberto
Gil e Hermeto, palmas para
Todos os instrumentistas
Salve Edu, Bituca, Nara
Gal, Bethania, Rita, Clara
Evoé, jovens à vista

O meu pai era paulista
Meu avô, pernambucano
O meu bisavô, mineiro
Meu tataravô, baiano
Vou na estrada há muitos anos
Sou um artista brasileiro".





Na música são citados diversos artistas, são eles:


Tom Jobim, Dorival Caymmi, Jackson do Pandeiro, Ari Barroso, Vinícius de Morais, Nelson Cavaquinho, Luiz Gonzaga, Pixinguinha, Noel Rosa, Cartola, Orestes Barbosa, Caetano Veloso, João Gilberto, Erasmo Carlos, Jorge Ben Jor, Roberto Carlos, Gilberto Gil, Hermeto Pascoal, Edu Lobo, Milton Nascimento ("Bituca"), Nara Leão, Gal Costa, Maria Bethânia, Rita Lee, Clara Nunes.


sábado, 13 de agosto de 2011

Estrela Miúda

Gente, hoje eu vou escrever sobre uma música muito linda! Essa é uma composição de João do Vale e Luiz Vieira, que no vídeo abaixo é interpretada pela Maria Bethânia. A música é belíssima e a voz da Bethânia ainda mais, enfim, espero que vocês gostem. Segue a letra e o vídeo:

Estrela Miúda

"Estrela miúda que alumeia o mar
Alumiá terra e mar
Pra meu bem vir me buscar
Há mais de um mês que ela não
Que ela não vem me olhar

A garça perdeu a pena
Ao passar no igarapé
Eu também perdi meu lenço
Atrás de quem não me quer

Estrela miúda que alumeia o mar
Alumiá terra e mar
Pra meu bem vir me buscar
Há mais de um mês que ela não
Que ela não vem me olhar

A onda quebrou na praia
E voltou correndo do mar
Meu amor foi como a onda
E não voltou pra me beijar."



sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Ontem sonhei...

Ontem sonhei que era criança novamente, e tudo era como antes. Ainda haviam árvores em abundância, pássaros e crianças brincando descalças na rua. Havia moleques andando sem camisa por aí e a violência era um assunto quase esquecido. 
Do sonho, lembro-me bem de uma igreja linda, de uma só torre, com arquitetura antiga e uma grade baixa que a cercava. Ela ficava em uma esquina e a rua a sua frente possuía no meio um canteiro cheio de árvores. As lembranças não são muito ricas em detalhes, infelizmente, porém me enchem de ternura e me fazem sentir que eu amava muito o lugar.
Ontem sonhei que andava em uma praça ampla, cheia de palmeiras e com um monumento no meio. Ao redor dela haviam prédios antigos e belos, bem conservados. A praça me fazia ter uma sensação de liberdade, me fazia bem.
Ontem sonhei que olhava para um rio belíssimo, de cima de uma varanda alta. Logo abaixo de mim, descendo a ladeira, haviam casas antigas. O sol já se punha e a paisagem era estonteante... Diante do espetáculo, tive mais uma vez a certeza de que Deus existe, e nos ama.
Ontem sonhei que estava em um vão quadrado, e cercado de colunas. Não parecia uma praça, na verdade era no meio de uma construção grande... Poderia ser um colégio ou um mosteiro. Não consegui entender bem que lugar era aquele, mas tive a impressão de já ter estado lá antes.
Ontem sonhei que caminhava na margem de um rio largo, parecia um braço de mar. Era à tardinha e bem no meio do rio, em uma canoa, um homem tocava saxofone... Reconheci a música e achei-a belíssima, mas não consegui lembrar-me do nome dela. O sol morrendo, o rio e o barquinho formavam uma vista tão linda que senti meus olhos marejarem.
Ontem, sonhei que visitava João Pessoa, mas não a João Pessoa de hoje, conturbada. Sonhei com a cidade de quando eu era criança, para onde eu viajava pra visitar meu tio. A cidade dos pés de jambo, das lavadeiras, dos casarões, dos passeios a pé pelas ruas perto da paróquia, da tranquilidade, das crianças brincando na rua, dos adultos sentados na calçada.  
No meu sonho tudo tinha cara de infância, mas isso é bobagem minha... A cidade mudou tanto, e talvez por isso escrevo com esse tom de nostalgia. Mudou muito mas continua linda, como era no meu sonho. 
Afinal, a Igreja de Nossa Senhora de Lourdes ainda está lá, e a Avenida João Machado ainda tem árvores no canteiro, como quando eu era criança e passava as férias na casa paroquial... A praça João Pessoa continua linda, como no meu sonho, e ainda me sinto bem quando passo por lá... O Rio Sanhauá ainda me encanta e surpreende, todas as vezes que o vejo pela varanda do Hotel Globo...  A Igreja de São Francisco ainda é maravilhosa, e seu pátio cheio de colunas sempre me trás a sensação de ser criança novamente... O Bolero de Ravel ainda me emociona, e a paisagem da praia do Jacaré me dá arrepios, ao entardecer...
Acho que a melancolia que encharca esse texto é mais por saudades da infância, quando eu prestava mais atenção nesses lugares. Pois que agora João Pessoa completa 426 anos, e continua tão linda como no meu sonho. 


Esse texto eu dedico ao meu tio Alberto, quem primeiro me apresentou a essa cidade linda, na qual agora resido e que aqui homenageio; e dedico também a todos os amigos que encontrei nesse lugar, tão longe de casa e com tanta cara de lar.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Garça Triste

Hoje eu vou escrever sobre um trecho de poema do Castro Alves.
O poema original se chama "Tragédia no Lar" e fala sobre uma negra que, na senzala, canta uma cantiga pra ninar o filho. Este, com frio, choraminga nos seus braços. Pois que a cantiga é de uma beleza simples e triste, e me encanta profundamente. Segue abaixo:


"Eu sou como a garça triste
Que mora à beira do rio,
As orvalhadas da noite
Me fazem tremer de frio.

Me fazem tremer de frio
Como os juncos da lagoa;
Feliz da araponga errante
Que é livre, que livre voa.

Que é livre, que livre voa
Para as bandas do seu ninho,
E nas braúnas à tarde
Canta longe do caminho.

Canta longe do caminho.
Por onde o vaqueiro trilha,
Se quer descansar as asas
Tem a palmeira, a baunilha.

Tem a palmeira, a baunilha,
Tem o brejo, a lavadeira,
Tem as campinas, as flores,
Tem a relva, a trepadeira,

Tem a relva, a trepadeira,
Todas têm os seus amores,
Eu não tenho mãe nem filhos,
Nem irmão, nem lar, nem flores".

Às vezes eu me sinto como a garça triste, e sinto inveja da araponga errante que voa livre pro seu lar, pro seu ninho. Às vezes eu sinto vontade de largar tudo e voar livre pra casa, também. 

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Roseira

Faz tanto tempo que não escrevo nada aqui... Suspeito até que perdi o jeito, mas, vamos lá!

Ontem sonhei que passava por um jardim enorme e diverso.
Eu não seria capaz, porém, de descrevê-lo com precisão. Era de uma beleza grande demais para ser descrita com palavras. Havia, se muito, uma ou duas plantas de pouca beleza, e estas quase não eram notadas, tamanho era o espetáculo que as cercava.
Bem no canto havia uma roseira. Não a notei logo a princípio. Ela ficou em seu canto, na sua, e por fim, a vi. Era realmente muito linda, e exalava um perfume tão puro que me fez feliz quase instantaneamente.
Era tão pura, tão simples e bondosa que a amei assim que coloquei meus olhos nela.
Eis aí o grande problema que toma meus pensamentos. A roseira me olhou nos olhos e por um segundo achei que ela também me amava, no outro achei que não. E assim entre olhares ficou a minha vida... O mesmo olhar que me parte o coração, um minuto depois me enche de esperança e trás de volta ao sol a luz que ele mesmo roubou.
E me pego com ciúmes da roseira que não me pertence. E me revisto de alegria quando um vento trás seu cheiro pra perto de mim. E meus olhos sorriem em resposta aos seus olhares, e às suas palavras. E mesmo nessa confusão de ciúmes, tristeza, alegria e esperança... Eu a amo, plena, profunda e desgraçadamente.

                                                                                                         Érica Rodrigues

domingo, 29 de maio de 2011

Aprendi

Pode parecer clichê, mas há um bom tempo que venho falando que queria escrever um texto sobre coisas que eu aprendi durante a vida, então lá vai:

Aprendi que macacos molhados cheiram mal.
Aprendi que a língua de um boi é áspera.
Aprendi que peixes gostam de comida, mas não muita comida.
Aprendi que se você tira uma folha de uma formiga, ela não aceita a folha de volta.
Aprendi que a escola pode ser o lugar mais legal do mundo, e também o mais assustador.
Aprendi que não se deve queimar uma corda em um lugar fechado.
Aprendi que você não precisa saber a tabuada para se formar.
Aprendi que meus pais fizeram coisas que não querem que eu faça.
Aprendi que não devo dizer que vou bombardear o colégio, mesmo que seja brincadeira.
Aprendi que quando a gente tem 11 anos, faz coisas muito idiotas.
Aprendi que não se deve cantar durante a aula de história, ainda mais se for a turma toda cantando.
Aprendi que alguns professores são uns demônios, mas outros são muito legais.
Aprendi que com o tempo a gente desencana das implicâncias da infância.
Aprendi a saber quando a correia de um ônibus tora.
Aprendi que queimaduras de água-viva doem pra caramba.
Aprendi que os seus amigos um dia seguem o seu rumo.
Aprendi que o meu avô é uma criatura fascinante.
Aprendi que pirralhos são irritantes.
Aprendi (minha irmã me contou) que miojo com feijoada enlatada dá azia.
Aprendi que você percebe o quanto ama a sua casa, quando vai morar fora dela.
Aprendi que seus pais mudam pra melhor quando você vai morar longe.
Aprendi que dinheiro VOA quando se mora sozinho.
Aprendi que a inflação em João Pessoa é um negócio assustador.
Aprendi que não se deve adoecer longe de casa.
Aprendi que não se deve colocar polidor de alumínio no fogão.
Aprendi que você deve se livrar do lixo o mais rápido possível.
Aprendi que um tapuru só morre queimado, ou com um palito. (não me perguntem como eu aprendi isso, não vai ser legal explicar)
Aprendi que é mais seguro andar em João Pessoa olhando para o chão.
Aprendi que não dá pra comprar leite condensado nos Bancários em um domingo a tarde.
Aprendi que a universidade é um mundo a parte.
Aprendi que quem tem boca vai mesmo a Roma.
Aprendi que as monografias no CCJ são organizadas de acordo com o primeiro nome do autor. oO
Aprendi que há no mundo sim, pessoas tão ruins quanto eu, e até piores.
Aprendi que os mineiros jogam peteca oO
Aprendi que os pedestres mineiros fecham o sinal de transito, haha.
Aprendi que todo mundo toma cerveja em BH.

                                                                                                                Érica Rodrigues

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Leão do Norte

Talvez porque eu estou com uma saudade danada de casa; talvez porque eu estava cantando essa música na universidade, com um amigo e conterrâneo, um dia desses; talvez pelos dois, vou escrever hoje sobre uma composição de Lenine e Paulo César Pinheiro, intitulada "Leão do Norte" que fala sobre Pernambuco. 
Faz um tempinho já que venho querendo fazer esse texto, mas sempre me faltava inspiração, hoje porém me deu uma doida e cá estou. 
Acho que pernambucano é um cara bairrista por natureza. 
Estou roubando as palavras de um amigo, (espero que ele não se importe, rsrs) mas quem é de pernambuco sempre leva pernambuco consigo pra onde vai; leva no coração, na lembrança, em uma camisa, uma bandeira (os mais chatos, como eu, levam no coração, na lembrança, na camisa e na bandeira, mas deixa quieto).
E eu acredito que esse bairrismo é bom, valoriza a cultura e o lugar. 
É importante que o povo ame o seu estado e veja, reconheça e aprecie o que nele tem de bom.
Dom Helder Câmara diz em uma crônica de seu livro Um olhar sobre a cidade: "Um pernambucano da gema pode ouvir Vassourinhas, sem estremecer?" Eu não sei responder pelos outros ao D. Helder, mas eu não consigo, rsrs.
Bom, já falei caraminholas demais, agora vamos à música. Segue o vídeo e a letra, abaixo.
Espero que gostem! :*

Leão do Norte

"Sou o coração do folclore nordestino
Eu sou Mateus e Bastião do Boi Bumbá
Sou o boneco do Mestre Vitalino
Dançando uma ciranda em Itamaracá
Eu sou um verso de Carlos Pena Filho
Num frevo de Capiba
Ao som da orquestra armorial
Sou Capibaribe
Num livro de João Cabral
Sou mamulengo de São Bento do Una
Vindo no baque solto de Maracatu
Eu sou um auto de Ariano Suassuna
No meio da Feira de Caruaru
Sou Frei Caneca do Pastoril do Faceta
Levando a flor da lira
Pra Nova Jerusalém
Sou Luis Gonzaga
E eu sou mangue também

Eu sou mameluco, sou de Casa Forte
Sou de Pernambuco, sou o Leão do Norte

Sou Macambira de Joaquim Cardoso
Banda de Pife no meio do Canavial
Na noite dos tambores silenciosos
Sou a calunga revelando o Carnaval
Sou a folia que desce lá de Olinda
O homem da meia-noite puxando esse cordão
Sou jangadeiro na festa de Jaboatão

Eu sou mameluco, sou de Casa Forte
Sou de Pernambuco, sou o Leão do Norte."



sexta-feira, 20 de maio de 2011

Esperas

Tudo começou quando eu era criança. Minto, começou desde sempre. 
Na verdade, desde antes de eu nascer. 
Lembro-me que toda semana eu ficava com o meu pai e minha irmã, escondidos em baixo do lençol da cama esperando a hora que mamãe ia chegar. 
Ela abria a porta da casa sempre com o mesmo barulho, que era próprio dela; e diferente do de todo mundo. E nós ficávamos sem fazer barulho, escondidos, pra que ela pudesse procurar por nós. 
Era assim uma vez a cada semana. 
No começo eu me perguntava porque eu tinha que esperar 24 horas para poder ver a minha mãe de novo. Porém depois eu entendi que esse era o trabalho dela. E a partir daí, acho, me habituei a esperar.
Com o tempo eu comecei a entender que tinha que esperar por muitas coisas.
Lembro que todas as férias eu ficava na calçada da casa dos meus avós, sentada no colo de vovô, esperando a hora que o meu tio ia chegar de viagem. Às vezes ele demorava, mas sempre valia a pena a espera. A recompensa era boa. E eu me sentia tão feliz quando via o carro parando da porta; e ele descia e me abraçava. E tudo ficava melhor.
Depois, quando a minha irmã entrou na escola, eu chorava todos os dias pedindo pra mamãe me deixar ir também. E ela sempre me dizia a mesma coisa. Me dizia que eu tinha que esperar, que quando eu ficasse maior poderia ir também.
Quando entrei na escola, aprendi que as esperas não tinham acabado. 
Como a escola era em outra cidade, no final de semana eu sempre tinha que esperar para ver os meus amigos novamente na segunda. E nas férias eu escrevia cartas para as amigas, cartas que quando leio agora me dão muita saudade.
Depois os amigos foram seguindo seus caminhos, alguns mudaram de cidade, outros de escola. E então comecei a ter que esperar bem mais que um fim de semana para vê-los. Semanas, meses, anos... As esperas nunca acabavam.
Por fim eu mudei de cidade. E as esperas passaram a ser bem mais duras e ásperas. 
A espera para voltar pra casa é a pior de todas. A falta que sinto da família, da minha casa, do lugar, do clima, da vegetação, do frio e do céu estrelado é quase inominável.
E outras esperas foram conseqüência dessa. 
Agora espero por notícias de amigos tão queridos que não sei nem explicar. 
Espero sempre abrir o e-mail e ter uma resposta, mesmo que de poucas linhas, contando coisas por muitas vezes triviais. Mas ainda assim, respostas que sei que foram digitadas por mãos amigas. Mãos que eu segurei por muitas vezes; e que por muitas outras me foram estendidas quando precisei.
Agora estou aqui. Espero para falar com um amigo, e esperarei sempre, quantas vezes for preciso. Porque o bom das esperas é que quando acabam, a recompensa é maravilhosa. 

                                                                                                                Érica Rodrigues
                                                                      

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Étoile Filante

Eu estou feliz. 
Hoje a terra completa uma volta em torno do sol, partindo do dia em que eu vi pela primeira vez uma estrela cadente. 
A felicidade que senti quando a vi foi muito parecida com a que sinto agora... Grande, contagiante, e sem explicação. 
Ela era realmente muito bonita, e se destacou tanto nesse céu de poucas estrelas que temos por aqui; tão diferente do céu estrelado da minha terra natal.
Acredito que não foi só a sua beleza que se destacou, acredito que foi mais a beleza que ela fez nascer dentro de mim. Pelo que pude perceber, é sempre assim com as estrelas cadentes.
Depois de um tempo ela passou. Foi embora, como era de se esperar. Mas acredito que quando vemos uma estrela desse tipo, sempre fica um pouquinho dela conosco. E sempre vale a pena. E sempre podemos lembrar dela. E sempre podemos ficar felizes novamente.
Ontem achei que tinha visto novamente uma estrela cadente. Estava enganada. Era apenas uma estrela muito mais bonita que as outras que a cercavam. Acabei me empolgando.
Porém essa visão de ontem me abriu um novo horizonte. Me fez lembrar da felicidade que a primeira estrela cadente deixou dentro de mim. Me fez lembrar como a gente pode ser feliz. Me fez lembrar como a vida é bonita. Como o céu é bonito. Como a lua é linda. Como um sorriso é importante. Como o barulho da chuva batendo na janela é agradável.

                                                                                                               Érica Rodrigues

domingo, 1 de maio de 2011

O Bêbado e a Equilibrista

Ainda existe esperança. Hoje acordei com os meus vizinhos ouvindo Elis Regina, e fiquei feliz em saber que ainda há quem ouça música de qualidade nesse país. 
Esse episódio, no entanto, me trouxe a vontade de escrever sobre essa música da Elis, "O Bêbado e a Equilibrista".
A música trata do período da Ditadura Militar brasileira, e é de composição do João Bosco e do Aldir Blanc. Já  vi muita gente cantar e ouvir essa música sem saber na verdade o que ela significa; por isso segue a letra comentada:


O Bêbado e a Equilibrista

Caía a tarde feito um viaduto
“Caía a tarde” faz referência ao horário que começavam as torturas no DOI-CODI, geralmente ao cair da tarde. “Feito um viaduto” se refere à queda de parte do Viaduto Paulo Frontin, obra do governo, no Rio de Janeiro, que caiu em 1971 e deixou 48 mortos. 

E um bêbado trajando luto
Me lembrou Carlitos...
Esses versos se referem ao personagem de Charles Chaplin, Carlitos, um andarilho que apesar de pobre, age como um cavalheiro.

A lua
Tal qual a dona do bordel
Pedia a cada estrela fria
Um brilho de aluguel
Bom, a interpretação desses versos é meio contraditória. Uns dizem que “A lua” é uma referência à Rede Globo, que cresceu às custas da ditadura. Outros, porém, dizem que se refere aos políticos que ficaram ao lado do regime militar em troca de benefícios pessoais.

E nuvens!
Lá no mata-borrão do céu
Chupavam manchas torturadas
Que sufoco!
Louco!
O bêbado com chapéu-coco
Fazia irreverências mil
Pra noite do Brasil
As “nuvens” fazem referência aos torturadores, que “chupavam manchas torturadas”, no caso, maltratavam, torturavam os presos políticos. Enquanto que “o bêbado com chapéu-coco” representa os artistas que “faziam irreverências mil” ou protestos, contra a ditadura, ou a “noite do Brasil”.

Meu Brasil!...
Que sonha com a volta
Do irmão do Henfil.
Com tanta gente que partiu
Num rabo de foguete
O “irmão do Henfil” é Betinho, um sociólogo e ativista dos direitos humanos que ficou exilado por oito anos. Henfil, irmão de Betinho, escrevia na última página da  revista “Isto É”, cartas para a mãe dele; que falavam nas entrelinhas da vida política do país e da vontade de que seu irmão exilado retornasse ao Brasil.
Ele escreve em seu livro Cartas da mãe: “Aos poucos fui escrevendo o nome Geisel. Até ele se acostumar e não achar que era desrespeito. Depois fui tomando liberdade de sentar no colo dele, mexer nos bolsos dele. Quando ele viu, eu tinha pregado chicletes na cadeira dele. Aí, já era tarde. Aldir Blanc e João Bosco já cantavam pela voz de Elis: - Meu Brasil que sonha com a volta do irmão do Henfil...”

Chora!
A nossa Pátria
Mãe gentil
Choram Marias
E Clarisses
No solo do Brasil...
“Choram Marias e Clarisses” é uma referência clara às esposas de Manuel Fiel Filho, e de Vladimir Herzog, o Vlado. Ambos foram presos políticos, que morreram na prisão; Manoel por torturas, e Vlado através de um suicídio mal forjado que revoltou o país.
Juntas, “Marias e Clarisses” são todas as esposas e mães brasileiras que viram seus filhos e maridos serem presos e torturados.

Mas sei, que uma dor
Assim pungente
Não há de ser inutilmente
A esperança...
Dança na corda bamba
De sombrinha
E em cada passo
Dessa linha
Pode se machucar...
Azar!
A esperança equilibrista
Sabe que o show
De todo artista
Tem que continuar...
Esses últimos versos se referem à resistência feita pelos artistas, que tinham como arma única a arte. Tanto eles quanto a sociedade em geral viviam na corda bamba, podendo se machucar a qualquer momento, por pisar fora da linha estipulada pelos militares; porém, apesar de tudo, todos têm consciência de que o show tem que continuar.


- Segue um vídeo sobre a volta dos exilados políticos, retirado da minissérie Queridos Amigos; a música acima tratada é fundo musical deste: 

sábado, 30 de abril de 2011

Estrelas

De súbito tive a idéia de fazer outro texto dedicado a alguém, para uma amiga muito muito amada.
Esse texto porém é diferente dos outros, pois nesse vai o meu coração em cada linha e o meu abraço em cada palavra.

Tive que procurar uma frase para me guiar nessa empreitada, pois do contrário eu não encontraria as palavras para dizer tudo o que desejo... Bom, a frase que escolhi foi a seguinte:


"A amizade é como as estrelas. Não às vemos toda hora, mas sabemos que existem."
  (Marina de Almeida Camargo)


Uma amizade verdadeira resiste à distância, à falta de contato, de notícias... E quando digo isso, digo com a propriedade de uma experiência própria.
Esse texto vai para uma amiga que me faz um bem tão grande que eu nem sei explicar. Porque quando eu estou com problemas ela sempre diz a coisa certa, sempre me dá um conselho que resolve tudo; e eu brinco dizendo que sou sua aprendiz. 
A forma melhor que encontrei para definir a nossa amizade foi a frase acima. Pois, às vezes passamos semanas sem nos falar, mas há sempre o conforto emocional de saber que ela está lá, pronta para me dizer as  coisas certas.
Eu sinto realmente de não poder dizer isso tudo pessoalmente; graças a essa distância que insiste em complicar os nossos dias. Porém a beleza da amizade reside exatamente nas renúncias que fazemos em prol da felicidade dos amigos. E a distância é uma dessas renúncias.

- Jack, minha flor, esse é seu... Sei que não ficou tão bom quanto você merece, mas sei também que você vai saber que é sincero, quando ler. Amo-te, e serei sempre sua aprendiz. :)

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Sorri

Há um poema do Charles Chaplin que a minha mãe gosta muito, e foi a partir dela que eu tomei conhecimento da existência dele. Segue abaixo:

"Sorri quando a dor te torturar
E a saudade atormentar
Os teus dias tristonhos vazios

Sorri quando tudo terminar
Quando nada mais restar
Do teu sonho encantador

Sorri quando o sol perder a luz
E sentires uma cruz
Nos teus ombros cansados doridos

Sorri vai mentindo a sua dor
E ao notar que tu sorris
Todo mundo irá supor
Que és feliz."



Quando surge algum problema na nossa vida, nós muitas vezes tendemos a nos deixar abalar e nos pomos a pensar de forma negativa. No entanto, o poeta nos sugere uma coisa muito simples: sorria.  
Falarei por mim, mas, quando me ponho a sorrir, os problemas parecem menores e tudo parece mais fácil. 
Se a gente visse a vida com mais descontração, se olhássemos "o copo meio cheio", certamente tudo seria mais agradável; e a gente poderia fazer bem não só a si, mas também às pessoas que nos cercam; pois, nada me faz mais feliz do que um sorriso amigo.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Aquilo que dá no coração

- Meu povo, o post de hoje talvez seja meio repetitivo, no entanto, eu fiquei muito feliz em escrevê-lo. Espero que gostem:


O título desse texto é nome de uma música do Lenine que ficou bem conhecida por ser abertura da novela Passione. E ouvindo-a resolvi escrever sobre ela.
Segue abaixo um trecho da letra:


"Aquilo que dá no coração
E nos joga nessa sinuca
Que faz perder o ar e a razão
E arrepia o pêlo da nuca
Aquilo reage em cadeia
Incendeia o corpo inteiro
Faísca, risca, trisca, arrodeia
Dispara o rito certeiro
Avassalador
Chega sem avisar
Toma de assalto, atropela
Vela de incendiar
Arrebatador
Vem de qualquer lugar
Chega, nem pede licença
Avança sem ponderar
Aquilo bate, ilumina
Invade a retina
Retém no olhar
O lance que laça na hora
Aqui e agora,
Futuro não há
Aquilo se pega de jeito
Te dá um sacode
Pra lá de além
O mundo muda, estremece
O caos acontece
Não poupa ninguém"


Eu já cometi algumas vezes o erro crasso de me perguntar o que é a paixão e de onde ela vem. Todavia por mais que eu me ponha a pensar, nunca consigo chegar a uma explicação satisfatória.
O que eu sei sobre esse sentimento é que ele vem não sei de onde e toma conta de nós de uma maneira tão poderosa que nos deixa de mãos atadas. E por mais que muitas vezes a gente tente ficar fora, não adianta, pois ninguém está imune a ele.
Em algum momento (geralmente quando a gente menos espera) surge alguém diferente aos nossos olhos... Alguém que nos chama a atenção. Seja por um sorriso, um olhar, o jeito ou o caráter, enfim, alguma coisa nos diz que aquela pessoa é diferente das outras e começa a surgir dentro de nós um sentimento novo, forte, revigorante e como disse o Lenine, arrebatador.

sábado, 9 de abril de 2011

O Pássaro

Bom, meu povo, esse texto que se segue é meu. Espero que vocês gostem:


                                                                O Pássaro

Lembro-me bem de quando o vi pela primeira vez, faz pouco tempo se contarmos em dias, porém em sentimentos fazem décadas. O primeiro pensamento que tive a seu respeito foi: Quanta petulância!
Ele era um pássaro grande e imponente. Suas penas eram lindas, porém nem toda beleza do mundo se comparava com a que vi quando olhei seus olhos. Eram uma fusão perfeita de verde e mostarda, mudavam de cor na luz, e me passaram uma paz tão grande que de fez querer mirá-los para sempre.
Sua expressão era sábia, e transbordava bondade, compreensão e a maturidade de uma alma jovem, porém com uma experiência tão grande, trazida, quem sabe, de outras vidas.
Quando ouvi seu canto fiquei maravilhada. Ele era suave, um pouco grave, e profundamente bonito. Certamente o tipo de canto que faz bem a todos que o ouvem, que vem de dentro da alma, e expressa o que ela sente de verdade.
Não esperava nunca poder me aproximar do pássaro, e quando isso aconteceu, alguma coisa em mim mudou. E foi assim por todas as vezes que o vi, e é assim até agora. Me parece que o meu destino ficou intrinsecamente ligado ao dele desde o primeiro momento que o vi.
O tempo passou e o pássaro trilhou momentos de felicidade e tantos outros de tristeza, porém ele parece ter uma força dentro de si que é capaz de superar tudo. Nos momentos difíceis, bom, nesses eu tentei ajudar, porém nos felizes eu nem sempre pude estar presente.
Quando eu pensei que o mundo ia desabar em cima dele, ele conseguiu superar tudo e voltou a ser quase quem era antes. Afinal, ele é uma fênix, e a fênix pega fogo na hora de morrer, e depois então renasce das cinzas. Ela faz bem a quem está por perto, e consegue agüentar cargas muito grandes.
E eu vi o pássaro passar por muitas coisas, e sempre superá-las, e sempre conseguir ajudar os outros a superar.
Bom, o pássaro continua na minha vida e na minha memória, acredito que nunca vou conseguir me afastar dele. Há nele algo que me faz muito bem, e eu preciso estar sempre por perto para dizer: fique bem! Pois enquanto ele estiver bem, eu estarei.



                                                                                                      Érica Rodrigues

quarta-feira, 23 de março de 2011

Tanto Mar

- Eu tenho três fracos na vida: MPB, História e Chico Buarque, rsrs. Há uma música do Chico chamada Tanto Mar que reúne essas três coisas, então, falemos sobre ela agora:

A música possui duas versões, a primeira foi escrita em 1975 em saudação à Revolução dos Cravos, que depusera o regime ditatorial de Portugal, em abril do ano anterior. A censura, porém, entendeu a mensagem que a letra propunha e Tanto Mar passou, mas sem letra. 
Em 1978, foi liberada e incluída num disco, mas com nova letra, pois a Revolução dos Cravos frustrou as expectativas. Como viria a escrever Wagner Homem, já em 2009: " O cheirinho de alecrim, cuja festa já murchara em Portugal, ainda demoraria a ser sentido nesta terra descoberta por Cabral."

Bom, aí vão as letras das duas versões, porém, como a versão original é menos conhecida, só postarei o vídeo dela:

Primeira versão, 1975:

Sei que está em festa, pá
Fico contente
E enquanto estou ausente
Guarda um cravo para mim
Eu queria estar na festa, pá
Com a tua gente
E colher pessoalmente
Uma flor no teu jardim
Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei, também, que é preciso, pá
Navegar, navegar
Lá faz primavera, pá
Cá estou doente
Manda urgentemente
Algum cheirinho de alecrim.

Segunda versão, 1978:
Foi bonita a festa, pá
Fiquei contente
Ainda guardo renitente
Um velho cravo para mim
Já murcharam tua festa, pá
Mas certamente
Esqueceram uma semente
Nalgum canto de jardim
Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei, também, quanto é preciso, pá
Navegar, navegar
Canta primavera, pá
Cá estou carente
Manda novamente
Algum cheirinho de alecrim.


sexta-feira, 11 de março de 2011

A cor da cidade

O texto de hoje é sem dúvida um dos meus preferidos, se a modéstia me permite.
O outro autor do texto é um querido, e foi realmente uma honra escrever com ele. Trabalhamos até tarde em algumas noites, mas o resultado valeu o esforço; Espero que gostem da nossa crônica:


A cor da cidade

Ontem vi no Jornal um absurdo. Em letras garrafais, bem em cima da página, estava escrito “Goiânia: a cidade mais verde do país”. Comecei a ler a reportagem e lá dizia que a capital do Goiás possui 94 m² de áreas verdes por habitante, 6 parques, 0,79 árvore por habitante e o escambal . E não parava por aí, dizia ainda que a minha João Pessoa possui SOMENTE cerca de 40 mil árvores plantadas em vias públicas e 0,06 árvore por habitante. E eles acham isso pouco?
Eu me pergunto como nós deixamos isso tudo acontecer. Quando eu era criança, por exemplo, a rua onde eu morava era muito diferente dessas que existem hoje em dia. Havia tantas árvores e tantas histórias... Onde está a árvore com o nome da minha primeira namorada gravado? E a mangueira de onde eu caí?
            Lembro-me que o meu primeiro beijo aconteceu embaixo do pé de jambo, bem em frente à minha casa. Semanas depois gravei meu nome e o da garota no tronco da árvore; sempre que eu passava por lá me lembrava do meu primeiro amor e do tímido beijo de minha amada. Outra vez caí de cima de uma mangueira que ficava por trás da casa da minha avó e quebrei o braço. Papai ficou uma fera, e mamãe, coitada, compadeceu-se e cuidou de mim.
Na minha rua havia também muitos pássaros, de todas as cores e espécies; e como eu adorava alimenta-los! Certa vez, atirei uma pedra em um deles, foi a primeira vez que senti remorso na minha vida.
Curioso como nada disso existe mais. Agora no lugar daquelas árvores deve haver alguma construção. Elas faziam parte da minha história, mas, e quantas outras não foram derrubadas para dar lugar a prédios e casas, e no fim a gente nem conhece quem vai morar lá.
Pensando assim, agora, não me admiro que não sejamos mais a “cidade verde” do país, isso já era de se esperar. Eu é que, com os olhos de menino, ainda pensava ver pássaros voando e pés de manga na rua; mas há muito eles não existem, pelo menos não como na época dos meus 11 anos.

                                                                          Daniel Cavalcanti e Érica Rodrigues

quarta-feira, 9 de março de 2011

Aquele Riso...

- Bom pessoal, peço desculpas por não ter postado nada a um bom tempo... 

Eu vou escrever mais uma vez sobre o Pequeno Príncipe, pois por mais que eu escreva, há sempre algo a mais que ficou por citar; é realmente um livro espetacular. A frase que se segue é parte dele: 

"E eu compreendi que não podia suportar a ideia de nunca mais escutar esse riso. Ele era para mim como uma fonte no deserto..."

Sabe pessoal, eu aprendi que o amor de verdade é aquele que não precisa de mais nada, aquele que é de graça,  que não importa se a pessoa não nos ama também, ou mesmo se ela ama outra pessoa, pois é um amor que não espera absolutamente nada em troca. 
Por muito tempo eu pensei que esse tipo de sentimento não existisse, que fosse apenas literatura, mas, agora eu tenho certeza de que ele não só existe, como é exatamente da maneira que o descrevo agora.
A frase acima descreve bem sentimentos como esse, pois às vezes a gente não precisa de quase nada da pessoa amada para ser feliz, basta um sorriso, um aceno, um olhar, uma palavra, e o nosso dia está ganho, e somos profundamente felizes por mais alguns momentos.
Porém os momentos vão passando e a gente começa a querer tudo novamente, e a ânsia por aquela presença, aqueles gestos, sorrisos, toma conta de nós novamente, pois, como bem diz a Clarisse Lispector: 

"Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença. Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: quer-se absorver a outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida."

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Hamet

- Game over. Confesso, eu tenho escrito muito pouco nesses últimos tempos... O problema é que eu tenho andado com pouco tempo e com falta de inspiração e criatividade. =T


Enfim, esse texto é sobre o famoso trecho da peça Hamlet, que a maioria das pessoas conhece como "Ser ou Não Ser". Faz muito tempo que eu quero escrever sobre isso, sempre tento, mas só hoje eu consegui. Seguem o trecho escrito e o vídeo, porém eu aconselho vocês a assistirem ao vídeo, porque o Daniel de Oliveira interpreta esse personagem como ninguém. Espero que gostem:

“Ser ou não ser – eis a questão.

Será mais nobre sofrer na alma pedradas e flechadas do destino feroz, ou pegar em armas contra o mar de angústias - e, combatendo-o, dar-lhe fim?
Morrer; dormir; Só isso.
E com sono - dizem - extinguir dores do coração e as mil mazelas naturais a que a carne é sujeita; eis uma consumação ardentemente desejável.
Morrer - dormir - dormir! Talvez sonhar. Aí está o problema! Os sonhos que virão no sono da morte quando tivermos escapado ao tumulto da vida nos obrigam a hesitar: e é essa reflexão que dá à desventura uma vida tão longa.
Pois quem suportaria o açoite e os insultos do mundo, a afronta do opressor, o desdém do orgulhoso, as pontadas do amor humilhado, as delongas da lei, a prepotência do governante e o achincalhe que o homem paciente recebe dos inúteis, podendo ele próprio encontrar seu repouso com um simples punhal?
Quem agüentaria fardos gemendo e suando numa vida servil, senão por temer alguma coisa após a morte - o país não descoberto, de onde jamais voltou nenhum viajante - nos confunde a vontade, nos faz preferir e suportar os males que já temos, a fugirmos para outros que desconhecemos?
E assim a reflexão faz todos nós covardes.
E assim a força natural da decisão se transforma em fétido 
pensamento. E empreitadas de vigor e coragem, refletidas demais, saem de seu caminho, perdem o nome de ação.
Vá devagar agora bela Ofélia, Ninfa, em tuas orações sejam lembrados todos os meus pecados.”
(Hamlet, Ato III, cena I)







O que me faz gostar desse texto, é que ele fala sobre algo que as pessoas normalmente não gostam de falar: do medo da morte.
Pra mim, ter medo da morte é como ter medo do escuro. Ninguém tem medo do escuro. Na verdade, a gente tem medo do desconhecido, de não saber o que há no escuro, e a mesma coisa acontece com a morte.
E nessa empreitada a gente faz de tudo pra levar uma vida boa, longa e correta; com medo do que vamos enfrentar depois de morrer; com medo de não sabermos se vamos ou não enfrentar algo depois de morrer; ou se a nossa vida se resume aos sofrimentos, angústias, felicidades e emoções que passamos aqui.
Pois, como disse o poeta, se tivéssemos a certeza que a morte era uma coisa muito boa, quem aguentaria os fardos, o sofrimento e a labuta do dia-a-dia, sabendo que o que o esperava era muito melhor?
E, com tudo isso, nós nos pomos a refletir, "e assim a reflexão faz todos nós covardes". 

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Mal traçadas linhas...

     Ontem acordei com uma idéia fixa na cabeça, Brás Cubas que os diga o quanto são perigosas idéias desse tipo. Acordei pensando em escrever mais um texto sobre amizade, um texto para um amigo em particular. Vasculhei minha memória em busca de algum texto ou frase que pudesse me ajudar em tal empreitada, e por fim me decidi por uma bastante conhecida, do Fernando Sabino: 


"O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem."


     Vocês podem se perguntar o porque de tal escolha, no entanto as minhas razões são simples. Essa frase resume tudo. Há amigos, como esse para quem escrevo agora (e muitos outros também), que exercem sobre nós uma força sem explicação desde a primeira vez que colocamos os olhos neles; e é como se os conhecêssemos há anos. Não sei bem o que leva tal fenômeno a acontecer, o que sei é que quando acontece, geralmente é o prenúncio de uma amizade forte e duradoura.
     Eis aí algo que sempre me intrigou, a amizade. Às vezes duas pessoas não tem absolutamente nada em comum, mas são grandes amigas. Porém não devo me desviar do meu amigo a quem destino essas mal traçadas linhas; e com ele acontece exatamente o contrário, somos realmente muito parecidos, me arrisco a dizer que nunca encontrei alguém que se pareça tanto comigo, acho que isso contribui um pouco à nossa amizade.
     O que me leva mais uma vez à frase acima citada, pois às vezes uma amizade nova nos é muito mais valiosa que uma antiga, pois, como bem disse o poeta, o que importa é a intensidade com que tudo acontece.


- Rodrigo, querido, esse é pra você... Peço desculpas pois devia ter ficado melhor, dado tão ilustre homenageado.



domingo, 23 de janeiro de 2011

"Meu caro amigo" (Ao meu amigo)

Primeiro eu quero me desculpar por passar tanto tempo sem escrever nada aqui... O fato é que eu andei viajando, e passei também por um tempo de falta absoluta de criatividade, inspiração e idéias.

Hoje eu fui surpreendida por um e-mail de um amigo muito, muito querido, que eu não vejo a um certo tempo, e isso salvou o meu dia. Ler aquelas linhas digitadas por mãos amigas me causou uma felicidade tão grande e tão simples, tão singela, felicidade tal que é própria da amizade. E esse tipo de amizade que resiste, apesar da distância, do pouco contato, da falta de notícias, é uma das coisas que me faz ter certeza da beleza da vida. Depois de tempos sem se falar, sem se ver, quando isso enfim acontece, a sensação é inexplicável.

Pois bem, esse episódio me fez lembrar de uma música, com letra do Chico Buarque e melodia do Francis Hime, que fala sobre amizade "à distância", por assim dizer.  O Wagner Homem escreve no livro Histórias de Canções CHICO BUARQUE :

"O teatrólogo Augusto Boal, exilado em Portugal, vivia se queixando de que os amigos não mandavam notícias do Brasil. Na ocasião, Chico estava tentando fazer uma letra para uma música romântica, mas não conseguia avançar. Pediu a Francis Hime um chorinho - e, utilizando o refrão "a coisa aqui tá preta", atualizou a correspondência e informou não só o amigo, mas todos os brasileiros, sobre a situação do país."

Chico mandou uma fita pela mãe de Augusto, com a música gravada, e o teatrólogo ouviu, lá de Lisboa, o canto de esperança do amigo que ficara no Brasil, mas que o ajudava a resistir à saudade, cantando sua amizade.




Segue um vídeo com a música, e um trecho da letra, que se chama Meu caro amigo:

"Meu caro amigo eu bem queria lhe escrever
Mas o correio andou arisco
Se me permitem, vou tentar lhe remeter
Notícias frescas nesse disco
Aqui na terra tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll
Uns dias chove, noutros dias bate sol
Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta
A Marieta manda um beijo para os seus
Um beijo na família, na Cecília e nas crianças
O Francis aproveita pra também mandar lembranças
A todo o pessoal
Adeus"








E quanto ao meu amigo:
- Fabinho, meu querido, muito obrigada por me trazer inspiração para escrever, pois isso me faz muito feliz. Esse texto é pra você, meu amigo.