sexta-feira, 11 de março de 2011

A cor da cidade

O texto de hoje é sem dúvida um dos meus preferidos, se a modéstia me permite.
O outro autor do texto é um querido, e foi realmente uma honra escrever com ele. Trabalhamos até tarde em algumas noites, mas o resultado valeu o esforço; Espero que gostem da nossa crônica:


A cor da cidade

Ontem vi no Jornal um absurdo. Em letras garrafais, bem em cima da página, estava escrito “Goiânia: a cidade mais verde do país”. Comecei a ler a reportagem e lá dizia que a capital do Goiás possui 94 m² de áreas verdes por habitante, 6 parques, 0,79 árvore por habitante e o escambal . E não parava por aí, dizia ainda que a minha João Pessoa possui SOMENTE cerca de 40 mil árvores plantadas em vias públicas e 0,06 árvore por habitante. E eles acham isso pouco?
Eu me pergunto como nós deixamos isso tudo acontecer. Quando eu era criança, por exemplo, a rua onde eu morava era muito diferente dessas que existem hoje em dia. Havia tantas árvores e tantas histórias... Onde está a árvore com o nome da minha primeira namorada gravado? E a mangueira de onde eu caí?
            Lembro-me que o meu primeiro beijo aconteceu embaixo do pé de jambo, bem em frente à minha casa. Semanas depois gravei meu nome e o da garota no tronco da árvore; sempre que eu passava por lá me lembrava do meu primeiro amor e do tímido beijo de minha amada. Outra vez caí de cima de uma mangueira que ficava por trás da casa da minha avó e quebrei o braço. Papai ficou uma fera, e mamãe, coitada, compadeceu-se e cuidou de mim.
Na minha rua havia também muitos pássaros, de todas as cores e espécies; e como eu adorava alimenta-los! Certa vez, atirei uma pedra em um deles, foi a primeira vez que senti remorso na minha vida.
Curioso como nada disso existe mais. Agora no lugar daquelas árvores deve haver alguma construção. Elas faziam parte da minha história, mas, e quantas outras não foram derrubadas para dar lugar a prédios e casas, e no fim a gente nem conhece quem vai morar lá.
Pensando assim, agora, não me admiro que não sejamos mais a “cidade verde” do país, isso já era de se esperar. Eu é que, com os olhos de menino, ainda pensava ver pássaros voando e pés de manga na rua; mas há muito eles não existem, pelo menos não como na época dos meus 11 anos.

                                                                          Daniel Cavalcanti e Érica Rodrigues

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