sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Ontem sonhei...

Ontem sonhei que era criança novamente, e tudo era como antes. Ainda haviam árvores em abundância, pássaros e crianças brincando descalças na rua. Havia moleques andando sem camisa por aí e a violência era um assunto quase esquecido. 
Do sonho, lembro-me bem de uma igreja linda, de uma só torre, com arquitetura antiga e uma grade baixa que a cercava. Ela ficava em uma esquina e a rua a sua frente possuía no meio um canteiro cheio de árvores. As lembranças não são muito ricas em detalhes, infelizmente, porém me enchem de ternura e me fazem sentir que eu amava muito o lugar.
Ontem sonhei que andava em uma praça ampla, cheia de palmeiras e com um monumento no meio. Ao redor dela haviam prédios antigos e belos, bem conservados. A praça me fazia ter uma sensação de liberdade, me fazia bem.
Ontem sonhei que olhava para um rio belíssimo, de cima de uma varanda alta. Logo abaixo de mim, descendo a ladeira, haviam casas antigas. O sol já se punha e a paisagem era estonteante... Diante do espetáculo, tive mais uma vez a certeza de que Deus existe, e nos ama.
Ontem sonhei que estava em um vão quadrado, e cercado de colunas. Não parecia uma praça, na verdade era no meio de uma construção grande... Poderia ser um colégio ou um mosteiro. Não consegui entender bem que lugar era aquele, mas tive a impressão de já ter estado lá antes.
Ontem sonhei que caminhava na margem de um rio largo, parecia um braço de mar. Era à tardinha e bem no meio do rio, em uma canoa, um homem tocava saxofone... Reconheci a música e achei-a belíssima, mas não consegui lembrar-me do nome dela. O sol morrendo, o rio e o barquinho formavam uma vista tão linda que senti meus olhos marejarem.
Ontem, sonhei que visitava João Pessoa, mas não a João Pessoa de hoje, conturbada. Sonhei com a cidade de quando eu era criança, para onde eu viajava pra visitar meu tio. A cidade dos pés de jambo, das lavadeiras, dos casarões, dos passeios a pé pelas ruas perto da paróquia, da tranquilidade, das crianças brincando na rua, dos adultos sentados na calçada.  
No meu sonho tudo tinha cara de infância, mas isso é bobagem minha... A cidade mudou tanto, e talvez por isso escrevo com esse tom de nostalgia. Mudou muito mas continua linda, como era no meu sonho. 
Afinal, a Igreja de Nossa Senhora de Lourdes ainda está lá, e a Avenida João Machado ainda tem árvores no canteiro, como quando eu era criança e passava as férias na casa paroquial... A praça João Pessoa continua linda, como no meu sonho, e ainda me sinto bem quando passo por lá... O Rio Sanhauá ainda me encanta e surpreende, todas as vezes que o vejo pela varanda do Hotel Globo...  A Igreja de São Francisco ainda é maravilhosa, e seu pátio cheio de colunas sempre me trás a sensação de ser criança novamente... O Bolero de Ravel ainda me emociona, e a paisagem da praia do Jacaré me dá arrepios, ao entardecer...
Acho que a melancolia que encharca esse texto é mais por saudades da infância, quando eu prestava mais atenção nesses lugares. Pois que agora João Pessoa completa 426 anos, e continua tão linda como no meu sonho. 


Esse texto eu dedico ao meu tio Alberto, quem primeiro me apresentou a essa cidade linda, na qual agora resido e que aqui homenageio; e dedico também a todos os amigos que encontrei nesse lugar, tão longe de casa e com tanta cara de lar.

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