sexta-feira, 20 de maio de 2011

Esperas

Tudo começou quando eu era criança. Minto, começou desde sempre. 
Na verdade, desde antes de eu nascer. 
Lembro-me que toda semana eu ficava com o meu pai e minha irmã, escondidos em baixo do lençol da cama esperando a hora que mamãe ia chegar. 
Ela abria a porta da casa sempre com o mesmo barulho, que era próprio dela; e diferente do de todo mundo. E nós ficávamos sem fazer barulho, escondidos, pra que ela pudesse procurar por nós. 
Era assim uma vez a cada semana. 
No começo eu me perguntava porque eu tinha que esperar 24 horas para poder ver a minha mãe de novo. Porém depois eu entendi que esse era o trabalho dela. E a partir daí, acho, me habituei a esperar.
Com o tempo eu comecei a entender que tinha que esperar por muitas coisas.
Lembro que todas as férias eu ficava na calçada da casa dos meus avós, sentada no colo de vovô, esperando a hora que o meu tio ia chegar de viagem. Às vezes ele demorava, mas sempre valia a pena a espera. A recompensa era boa. E eu me sentia tão feliz quando via o carro parando da porta; e ele descia e me abraçava. E tudo ficava melhor.
Depois, quando a minha irmã entrou na escola, eu chorava todos os dias pedindo pra mamãe me deixar ir também. E ela sempre me dizia a mesma coisa. Me dizia que eu tinha que esperar, que quando eu ficasse maior poderia ir também.
Quando entrei na escola, aprendi que as esperas não tinham acabado. 
Como a escola era em outra cidade, no final de semana eu sempre tinha que esperar para ver os meus amigos novamente na segunda. E nas férias eu escrevia cartas para as amigas, cartas que quando leio agora me dão muita saudade.
Depois os amigos foram seguindo seus caminhos, alguns mudaram de cidade, outros de escola. E então comecei a ter que esperar bem mais que um fim de semana para vê-los. Semanas, meses, anos... As esperas nunca acabavam.
Por fim eu mudei de cidade. E as esperas passaram a ser bem mais duras e ásperas. 
A espera para voltar pra casa é a pior de todas. A falta que sinto da família, da minha casa, do lugar, do clima, da vegetação, do frio e do céu estrelado é quase inominável.
E outras esperas foram conseqüência dessa. 
Agora espero por notícias de amigos tão queridos que não sei nem explicar. 
Espero sempre abrir o e-mail e ter uma resposta, mesmo que de poucas linhas, contando coisas por muitas vezes triviais. Mas ainda assim, respostas que sei que foram digitadas por mãos amigas. Mãos que eu segurei por muitas vezes; e que por muitas outras me foram estendidas quando precisei.
Agora estou aqui. Espero para falar com um amigo, e esperarei sempre, quantas vezes for preciso. Porque o bom das esperas é que quando acabam, a recompensa é maravilhosa. 

                                                                                                                Érica Rodrigues
                                                                      

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