domingo, 28 de abril de 2013

O velho Francisco (Ticô)

Nas histórias, o herói é sempre aquele cara forte, jovem, galã, invencível, que consegue tudo o que quer... No entanto, desde criança, o meu exemplo de heroísmo é algo bem diferente desse estereótipo.
O meu herói tem calos nas mãos e rugas no rosto. Levanta antes do sol, todos os dias, e inicia sua labuta de tratar da terra e fazê-la florescer. É falível, como qualquer humano, mas aprende com os erros e é correto como poucos. É forte, mais bravo que a natureza.
Em seus mais de oitenta anos de caminhada, já viu morte, seca, pobreza, fome, violência... Venceu tudo isso com sua coragem de sertanejo. Desde menino aprendeu a importância do trabalho duro na construção do caráter do homem. Aprendeu na infância a pegar na enxada, plantar seu alimento e arrancar da terra o sustento de cada dia. Ainda jovem viu o pai ser assassinado e tornou-se o homem da casa. Cuidou da família, como faz até hoje...
Não é de muitos sorrisos. Guarda-os para quem os merece. Não gosta de fingimentos e é verdadeiro em cada gesto, olhar e palavra proferida. Há nele tanta serenidade, que consegue me fazer bem apenas com sua presença, em silêncio, ao meu lado.
O meu herói ensinou-me a amar a poesia, amar as histórias. O seu prazer em contá-las me fez perceber que era isso o que eu queria para a minha vida. Com ele aprendi a prezar pelo caráter, pela honra. Ensinou-me que o homem que não tem honra nada possui de belo, apenas de cruel. Me fez aprender na prática o significado de generosidade e grandeza. Mostrou-me que é possível presenciar a maldade humana sem deixar se contagiar por ela. Viu a feiura da vida e conservou a doçura do ser.
Agora, em qualquer lugar do mundo, o nome "Francisco" é conhecido. E quando esse nome é falado, logo o associam ao Papa jesuíta que agora toma a frente da Igreja de Pedro. Porém para mim, por toda a eternidade, o Francisco mais importante do mundo não é Papa, e nunca chegará a ser. Ele é um agricultor que acorda às 3:30h da manhã, dono de um caráter invejável, e profundamente terno em sua rudeza. Um verdadeiro herói. Acho que a palavra ternura vai sempre parecer com as suas mãos calejadas.


*Ao meu avô Francisco, que me ensinou a levar a vida de modo que eu possa me orgulhar dela.

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