Nas histórias, o herói é sempre aquele cara forte, jovem, galã, invencível,
que consegue tudo o que quer... No entanto, desde criança, o meu exemplo de
heroísmo é algo bem diferente desse estereótipo.
O meu herói tem calos nas mãos e rugas no rosto. Levanta antes do sol, todos
os dias, e inicia sua labuta de tratar da terra e fazê-la florescer. É falível,
como qualquer humano, mas aprende com os erros e é correto como poucos. É
forte, mais bravo que a natureza.
Em seus mais de oitenta anos de caminhada, já viu morte, seca, pobreza,
fome, violência... Venceu tudo isso com sua coragem de sertanejo. Desde menino
aprendeu a importância do trabalho duro na construção do caráter do homem.
Aprendeu na infância a pegar na enxada, plantar seu alimento e arrancar da
terra o sustento de cada dia. Ainda jovem viu o pai ser assassinado e tornou-se
o homem da casa. Cuidou da família, como faz até hoje...
Não é de muitos sorrisos. Guarda-os para quem os merece. Não gosta de
fingimentos e é verdadeiro em cada gesto, olhar e palavra proferida. Há nele
tanta serenidade, que consegue me fazer bem apenas com sua presença, em
silêncio, ao meu lado.
O meu herói ensinou-me a amar a poesia, amar as histórias. O seu prazer em
contá-las me fez perceber que era isso o que eu queria para a minha vida. Com
ele aprendi a prezar pelo caráter, pela honra. Ensinou-me que o homem que não
tem honra nada possui de belo, apenas de cruel. Me fez aprender na prática o
significado de generosidade e grandeza. Mostrou-me que é possível presenciar a
maldade humana sem deixar se contagiar por ela. Viu a feiura da vida e
conservou a doçura do ser.
Agora, em qualquer lugar do mundo, o nome "Francisco" é conhecido.
E quando esse nome é falado, logo o associam ao Papa jesuíta que agora toma a
frente da Igreja de Pedro. Porém para mim, por toda a eternidade, o Francisco
mais importante do mundo não é Papa, e nunca chegará a ser. Ele é um agricultor
que acorda às 3:30h da manhã, dono de um caráter invejável, e profundamente
terno em sua rudeza. Um verdadeiro herói. Acho que a palavra ternura vai sempre
parecer com as suas mãos calejadas.
*Ao meu avô Francisco, que me ensinou a levar a vida de modo que eu possa me
orgulhar dela.
http://www.youtube.com/watch?v=z-x5CP776PU
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