A gente nunca consegue dar o devido valor ao que possui. Talvez isso se
deva à eterna angústia da condição humana, ou a alguma outra explicação
filosófica e complicada que, se eu tomasse conhecimento, acabaria me entristecendo.
Hoje senti uma saudade dilacerante de ser criança e conseguir encarar a vida de
frente, sem medos. Saudade de cair, me machucar, chorar um pouco e seguir em
frente, sem temer novas feridas.
Talvez a grande explicação da vida nos seja dada antes de nascermos e por
isso as crianças são assim, felizes. Só que com o tempo e a nossa péssima memória, deixamos essa explicação para trás e começamos a estabanar tudo. Não existe criança triste. E quando digo
triste, refiro-me a essa tristeza profunda e espiritual que assola tantos
adultos. Na infância a gente se entristece por
situações pontuais, mas depois de chorar um pouco, levantamos prontos para
outra brincadeira. Temos sempre um sorriso guardado de reserva para usar a
qualquer momento. Vai ver é isso que
está faltando nas pessoas, um sorriso guardado no bolso, pra poder recorrer a
ele em momentos de emergência.
Hoje, voltando pra casa, acabei levando um banho de chuva e gargalhei
sozinha, no meio de uma avenida movimentada. Aquela água toda trouxe consigo
muitas lembranças de quando a felicidade era mais fácil de ser encontrada, ou
eu sabia procurar melhor por ela. Lembrei-me de como eu gostava de dançar na
chuva e sentir os pingos caindo no meu rosto... Era como se a natureza
estivesse me enviando um recado, dizendo-me que nem tudo é tão ruim quanto
parece e que, se a gente procurar direitinho, encontra beleza em qualquer
lugar.
Tudo isso me fez pensar que a criança que eu fui um dia ficaria
desapontada em me ver hoje. A felicidade passou pela rua ao lado, acenou pra
mim e seguiu em frente, mas eu não corri atrás dela. Tive medo de me machucar,
de cair na correria e ralar os joelhos. Tive medo de dar tudo errado e eu ter
que voltar pra casa de mãos vazias e com o coração cheio de desilusões. Queria
poder voltar atrás, pegar emprestada um pouco daquela coragem de menina e
correr o máximo que as minhas pernas agüentarem. Talvez a felicidade tenha
parado em algum lugar e, na correria, eu ainda consiga alcançá-la.
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