sábado, 20 de abril de 2013

Sobre o que nos escapa às mãos


A gente nunca consegue dar o devido valor ao que possui. Talvez isso se deva à eterna angústia da condição humana, ou a alguma outra explicação filosófica e complicada que, se eu tomasse conhecimento, acabaria me entristecendo. Hoje senti uma saudade dilacerante de ser criança e conseguir encarar a vida de frente, sem medos. Saudade de cair, me machucar, chorar um pouco e seguir em frente, sem temer novas feridas.
Talvez a grande explicação da vida nos seja dada antes de nascermos e por isso as crianças são assim, felizes. Só que com o tempo e a nossa péssima memória, deixamos essa explicação para trás e começamos a estabanar tudo. Não existe criança triste. E quando digo triste, refiro-me a essa tristeza profunda e espiritual que assola tantos adultos. Na infância a gente se entristece por situações pontuais, mas depois de chorar um pouco, levantamos prontos para outra brincadeira. Temos sempre um sorriso guardado de reserva para usar a qualquer momento.  Vai ver é isso que está faltando nas pessoas, um sorriso guardado no bolso, pra poder recorrer a ele em momentos de emergência.
Hoje, voltando pra casa, acabei levando um banho de chuva e gargalhei sozinha, no meio de uma avenida movimentada. Aquela água toda trouxe consigo muitas lembranças de quando a felicidade era mais fácil de ser encontrada, ou eu sabia procurar melhor por ela. Lembrei-me de como eu gostava de dançar na chuva e sentir os pingos caindo no meu rosto... Era como se a natureza estivesse me enviando um recado, dizendo-me que nem tudo é tão ruim quanto parece e que, se a gente procurar direitinho, encontra beleza em qualquer lugar.
Tudo isso me fez pensar que a criança que eu fui um dia ficaria desapontada em me ver hoje. A felicidade passou pela rua ao lado, acenou pra mim e seguiu em frente, mas eu não corri atrás dela. Tive medo de me machucar, de cair na correria e ralar os joelhos. Tive medo de dar tudo errado e eu ter que voltar pra casa de mãos vazias e com o coração cheio de desilusões. Queria poder voltar atrás, pegar emprestada um pouco daquela coragem de menina e correr o máximo que as minhas pernas agüentarem. Talvez a felicidade tenha parado em algum lugar e, na correria, eu ainda consiga alcançá-la. 

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