quarta-feira, 23 de março de 2011

Tanto Mar

- Eu tenho três fracos na vida: MPB, História e Chico Buarque, rsrs. Há uma música do Chico chamada Tanto Mar que reúne essas três coisas, então, falemos sobre ela agora:

A música possui duas versões, a primeira foi escrita em 1975 em saudação à Revolução dos Cravos, que depusera o regime ditatorial de Portugal, em abril do ano anterior. A censura, porém, entendeu a mensagem que a letra propunha e Tanto Mar passou, mas sem letra. 
Em 1978, foi liberada e incluída num disco, mas com nova letra, pois a Revolução dos Cravos frustrou as expectativas. Como viria a escrever Wagner Homem, já em 2009: " O cheirinho de alecrim, cuja festa já murchara em Portugal, ainda demoraria a ser sentido nesta terra descoberta por Cabral."

Bom, aí vão as letras das duas versões, porém, como a versão original é menos conhecida, só postarei o vídeo dela:

Primeira versão, 1975:

Sei que está em festa, pá
Fico contente
E enquanto estou ausente
Guarda um cravo para mim
Eu queria estar na festa, pá
Com a tua gente
E colher pessoalmente
Uma flor no teu jardim
Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei, também, que é preciso, pá
Navegar, navegar
Lá faz primavera, pá
Cá estou doente
Manda urgentemente
Algum cheirinho de alecrim.

Segunda versão, 1978:
Foi bonita a festa, pá
Fiquei contente
Ainda guardo renitente
Um velho cravo para mim
Já murcharam tua festa, pá
Mas certamente
Esqueceram uma semente
Nalgum canto de jardim
Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei, também, quanto é preciso, pá
Navegar, navegar
Canta primavera, pá
Cá estou carente
Manda novamente
Algum cheirinho de alecrim.


sexta-feira, 11 de março de 2011

A cor da cidade

O texto de hoje é sem dúvida um dos meus preferidos, se a modéstia me permite.
O outro autor do texto é um querido, e foi realmente uma honra escrever com ele. Trabalhamos até tarde em algumas noites, mas o resultado valeu o esforço; Espero que gostem da nossa crônica:


A cor da cidade

Ontem vi no Jornal um absurdo. Em letras garrafais, bem em cima da página, estava escrito “Goiânia: a cidade mais verde do país”. Comecei a ler a reportagem e lá dizia que a capital do Goiás possui 94 m² de áreas verdes por habitante, 6 parques, 0,79 árvore por habitante e o escambal . E não parava por aí, dizia ainda que a minha João Pessoa possui SOMENTE cerca de 40 mil árvores plantadas em vias públicas e 0,06 árvore por habitante. E eles acham isso pouco?
Eu me pergunto como nós deixamos isso tudo acontecer. Quando eu era criança, por exemplo, a rua onde eu morava era muito diferente dessas que existem hoje em dia. Havia tantas árvores e tantas histórias... Onde está a árvore com o nome da minha primeira namorada gravado? E a mangueira de onde eu caí?
            Lembro-me que o meu primeiro beijo aconteceu embaixo do pé de jambo, bem em frente à minha casa. Semanas depois gravei meu nome e o da garota no tronco da árvore; sempre que eu passava por lá me lembrava do meu primeiro amor e do tímido beijo de minha amada. Outra vez caí de cima de uma mangueira que ficava por trás da casa da minha avó e quebrei o braço. Papai ficou uma fera, e mamãe, coitada, compadeceu-se e cuidou de mim.
Na minha rua havia também muitos pássaros, de todas as cores e espécies; e como eu adorava alimenta-los! Certa vez, atirei uma pedra em um deles, foi a primeira vez que senti remorso na minha vida.
Curioso como nada disso existe mais. Agora no lugar daquelas árvores deve haver alguma construção. Elas faziam parte da minha história, mas, e quantas outras não foram derrubadas para dar lugar a prédios e casas, e no fim a gente nem conhece quem vai morar lá.
Pensando assim, agora, não me admiro que não sejamos mais a “cidade verde” do país, isso já era de se esperar. Eu é que, com os olhos de menino, ainda pensava ver pássaros voando e pés de manga na rua; mas há muito eles não existem, pelo menos não como na época dos meus 11 anos.

                                                                          Daniel Cavalcanti e Érica Rodrigues

quarta-feira, 9 de março de 2011

Aquele Riso...

- Bom pessoal, peço desculpas por não ter postado nada a um bom tempo... 

Eu vou escrever mais uma vez sobre o Pequeno Príncipe, pois por mais que eu escreva, há sempre algo a mais que ficou por citar; é realmente um livro espetacular. A frase que se segue é parte dele: 

"E eu compreendi que não podia suportar a ideia de nunca mais escutar esse riso. Ele era para mim como uma fonte no deserto..."

Sabe pessoal, eu aprendi que o amor de verdade é aquele que não precisa de mais nada, aquele que é de graça,  que não importa se a pessoa não nos ama também, ou mesmo se ela ama outra pessoa, pois é um amor que não espera absolutamente nada em troca. 
Por muito tempo eu pensei que esse tipo de sentimento não existisse, que fosse apenas literatura, mas, agora eu tenho certeza de que ele não só existe, como é exatamente da maneira que o descrevo agora.
A frase acima descreve bem sentimentos como esse, pois às vezes a gente não precisa de quase nada da pessoa amada para ser feliz, basta um sorriso, um aceno, um olhar, uma palavra, e o nosso dia está ganho, e somos profundamente felizes por mais alguns momentos.
Porém os momentos vão passando e a gente começa a querer tudo novamente, e a ânsia por aquela presença, aqueles gestos, sorrisos, toma conta de nós novamente, pois, como bem diz a Clarisse Lispector: 

"Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença. Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: quer-se absorver a outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida."