domingo, 13 de abril de 2014

Sei não...

Na minha frente, um provável futuro músico brilhante me fala de seu interesse por violão clássico e Villa Lobos. Há mais ou menos meia hora ele tem tagarelado, embalado pelo enorme copo de cerveja que segura na mão esquerda. O observei desde que cheguei na festa, e agora cá está ele, falando de seus interesses pra mim.
O engraçado é que não consigo prestar atenção no que ele diz. Quanto mais a conversa passeia por música, literatura, cinema, mais o meu pensamento vaga pra longe, para aquela madrugada na praia, quando sentamos na areia e conversamos algo que eu não lembro o que foi, de tão nervosa que estava com a sua presença. Deve existir qualquer coisa de outra vida nessa sua capacidade de me fazer sentir leve e me divertir. Definitivamente, ninguém mais é capaz de me persuadir a cantar sertanejo ou assistir a um dvd de forró.
Acho que a questão está mais no fato de que me encanta esse teu jeito aberto a aprender comigo, por mais que eu pense que não tenho nada a ensinar. Muito pelo contrário! Eu que tenho aprendido muito contigo. Uma aula diária e completa sobre ser feliz e nivelar a vida por cima.
O primeiro ensinamento que recebi, lá pelos primeiros raios de sol daquela primeira madrugada que passamos conversando, foi que eu ia precisar me preocupar menos com as coisas. Constatei que é inútil viver todos os dias uma rotina certinha, fazendo tudo certinho. A felicidade às vezes é toda erradinha, e a gente precisa aprender a pegar ela pela asa e aproveitar.   
 Liguei o foda-se. E não pense que eu já tinha feito isso antes. Essa ideia era apenas uma teoria que ainda não tinha encontrado o terreno propício pra germinar. Na verdade eu nunca tinha encontrado alguém por quem valesse a pena solenemente ligar o botão foda-se.  Mas agora que aprendi o caminho, não sei como fiquei tanto tempo sem usar desse artifício, sem me divertir como só me divirto quando estou com você.   
Agora não me resta muito a fazer além de aproveitar cada minuto roubado que posso passar contigo. Acho que o futuro é quem sabe onde isso tudo vai parar. E por mais que essa frase seja clichê, é a única certeza que tenho. Deixa o destino dizer quanto tempo de felicidade ainda temos. Já tentei colocar prazos na felicidade e percebi que ela é maior que isso, que ela é maior que a gente.
O provável futuro músico brilhante sorri pra mim, como que concluindo um raciocínio. Sorrio de volta e concordo, apesar de não ter ideia do que ele falou. Preciso ser simpática com ele, afinal a culpa de eu não ter ouvido nenhuma sílaba da conversa é sua, que toma meus pensamentos em tempo integral. 

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