Na minha frente, um provável futuro músico
brilhante me fala de seu interesse por violão clássico e Villa Lobos. Há mais
ou menos meia hora ele tem tagarelado, embalado pelo enorme copo de cerveja que
segura na mão esquerda. O observei desde que cheguei na festa, e agora cá está ele,
falando de seus interesses pra mim.
O engraçado é que não consigo
prestar atenção no que ele diz. Quanto mais a conversa passeia por música,
literatura, cinema, mais o meu pensamento vaga pra longe, para aquela madrugada
na praia, quando sentamos na areia e conversamos algo que eu não lembro o que
foi, de tão nervosa que estava com a sua presença. Deve existir qualquer coisa
de outra vida nessa sua capacidade de me fazer sentir leve e me divertir. Definitivamente,
ninguém mais é capaz de me persuadir a cantar sertanejo ou assistir a um dvd de
forró.
Acho que a questão está mais no fato
de que me encanta esse teu jeito aberto a aprender comigo, por mais que eu
pense que não tenho nada a ensinar. Muito pelo contrário! Eu que tenho
aprendido muito contigo. Uma aula diária e completa sobre ser feliz e nivelar a
vida por cima.
O primeiro ensinamento que recebi, lá
pelos primeiros raios de sol daquela primeira madrugada que passamos
conversando, foi que eu ia precisar me preocupar menos com as coisas. Constatei
que é inútil viver todos os dias uma rotina certinha, fazendo tudo certinho. A
felicidade às vezes é toda erradinha, e a gente precisa aprender a pegar ela
pela asa e aproveitar.
Liguei o foda-se. E não pense que eu já tinha
feito isso antes. Essa ideia era apenas uma teoria que ainda não tinha
encontrado o terreno propício pra germinar. Na verdade eu nunca tinha
encontrado alguém por quem valesse a pena solenemente ligar o botão foda-se. Mas agora que aprendi o caminho, não sei como
fiquei tanto tempo sem usar desse artifício, sem me divertir como só me divirto
quando estou com você.
Agora não me resta muito a fazer além
de aproveitar cada minuto roubado que posso passar contigo. Acho que o futuro é
quem sabe onde isso tudo vai parar. E por mais que essa frase seja clichê, é a única
certeza que tenho. Deixa o destino dizer quanto tempo de felicidade ainda
temos. Já tentei colocar prazos na felicidade e percebi que ela é maior que
isso, que ela é maior que a gente.
O provável futuro músico brilhante
sorri pra mim, como que concluindo um raciocínio. Sorrio de volta e concordo,
apesar de não ter ideia do que ele falou. Preciso ser simpática com ele, afinal
a culpa de eu não ter ouvido nenhuma sílaba da conversa é sua, que toma meus
pensamentos em tempo integral.
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