sábado, 22 de março de 2014

Vermelho

Às vezes eu só quero sentar em silêncio e ouvir o som da cidade. O fato dela estar sempre em movimento ao mesmo tempo me fascina e assusta, e fico me perguntando se há lugar para a felicidade em meio a toda essa correria. 
A cidade é tão bonita ao entardecer que sinto algo que não sei nomear crescer dentro de mim  e ameaçar sair pela boca. Talvez seja o meu coração, querendo deixar a turbulência do meu peito e ganhar o mundo. Esse mundo que consegue ser infinitamente belo e cruel. Se o meu coração soubesse o quanto a turbulência do meu peito é um lugar seguro, não iria querer sair de lá nunca. Mas a gente sempre quer o que não tem. 
Eu, por exemplo, que por tanto tempo estive escondida no fundo de mim, agora tenho impulsos constantes de sair pela cidade a te procurar. Agora já não me basta mais sentar na varanda e ver as cores com quem o fim de tarde pinta o céu. Se você não telefona, não aparece na hora combinada, eu perco o medo do mundo e quero ir te encontrar. Essa é uma sensação tão forte que ameaça fazer o horizonte romper. Talvez o vermelho do entardecer escorra qual sangue quando isso acontecer. 

Mas então você reaparece, e a simples consciência de que você quer saber de mim faz tudo parecer bonito de novo. E me pego encantada com as luzinhas dos carros na avenida congestionada e com os sons da cidade que pulsa viva, muito viva, como eu. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário