Às vezes eu só quero sentar em silêncio e
ouvir o som da cidade. O fato dela estar sempre em movimento ao mesmo tempo me
fascina e assusta, e fico me perguntando se há lugar para a felicidade em meio
a toda essa correria.
A cidade é tão bonita ao entardecer que
sinto algo que não sei nomear crescer dentro de mim e ameaçar sair pela
boca. Talvez seja o meu coração, querendo deixar a turbulência do meu peito e
ganhar o mundo. Esse mundo que consegue ser infinitamente belo e cruel. Se o
meu coração soubesse o quanto a turbulência do meu peito é um lugar seguro, não
iria querer sair de lá nunca. Mas a gente sempre quer o que não tem.
Eu, por exemplo, que por tanto tempo
estive escondida no fundo de mim, agora tenho impulsos constantes de sair pela
cidade a te procurar. Agora já não me basta mais sentar na varanda e ver as
cores com quem o fim de tarde pinta o céu. Se você não telefona, não aparece na
hora combinada, eu perco o medo do mundo e quero ir te encontrar. Essa é uma sensação
tão forte que ameaça fazer o horizonte romper. Talvez o vermelho do entardecer
escorra qual sangue quando isso acontecer.
Mas então você reaparece, e a simples
consciência de que você quer saber de mim faz tudo parecer bonito de novo. E me
pego encantada com as luzinhas dos carros na avenida congestionada e com os
sons da cidade que pulsa viva, muito viva, como eu.
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