A risada dela tinha o poder de fazer o mundo parar por um
segundo. Na verdade, o tempo, que sempre mostrou-se tão cruel, parecia passar
muito devagar pra ela... A moça, quase uma menina, levava a vida como se fosse
viver pra sempre, desperdiçando o tempo com coisas simples e sem importância.
Conheceram-se no carnaval. Ela dançava ciranda balançando o
cabelo cheio de pequenas tranças, enquanto ele passava por ali, a caminho da
casa de um amigo. Chovia e ela o notou alguns segundos depois dele percebê-la,
e o sorriu. Foi aí que ele aprendeu que o mundo, que girava com tanta pressa,
podia parar por alguns momentos. Acabaram sendo apresentados por um amigo em
comum e começaram um relacionamento que tinha um quê diferente para cada um dos
dois.
Ela divertia-se imensamente com a preocupação dele com
coisas sérias. Ele achava fascinante e preocupante o jeito despreocupado dela
levar a vida. Ela ensinou-lhe a trançar seus cabelos cor de abóbora e ele
desenvolveu o hábito de trazer da rua sempre uma papoula amarela para colocar
neles. Adorava a combinação de cores que se formava. Ela gostava de vê-lo com
os cabelos grisalhos molhados, como quando se viram pela primeira vez.
Ele sempre fazia muitos planos para os dois. Ela, no entanto,
jamais planejava nada. Gostava de ser livre, de andar descalça na areia e com
os cabelos soltos ao vento. Ele sorria como quem sempre buscou se encantar com
a vida, mas até ali só encontrara desencanto e feiura.
Passavam muito tempo juntos. Por ele, dobrariam o tempo e o
guardariam no bolso, para poderem aproveitar a eternidade em paz. Mas ela
gostava de usar algum tempo para si. Às vezes vestia-se lindamente, colocava
batom vermelho e saía, deixando pra trás um coração de meia idade aflito e
complacente. Sempre que isso acontecia, ele pensava se chegaria o dia em que
ela não ia mais voltar. E lidar com tamanha liberdade de espírito consumia todo
o esforço dele, que jamais havia se dedicado tanto a nada além de papeladas
enormes.
A pequena ensinou-lhe a importância de se encantar com a
vida. Foi com ela que ele aprendeu a apreciar o gosto de uma laranja recém
tirada do pé e a beleza dos acordes de uma bossa. E quando um dia ela não
voltou mais, ele soube perceber a beleza das coisas finitas e belas. Quando o
tempo parou pra ela sorrir pela última vez, ele percebeu que as coisas podem
ser ainda mais belas quando duram apenas o que podem durar. E ele colheu uma
papoula no jardim da casa onde foram felizes e colocou nos cabelos dela, pra
que eternamente as cores da flor e do alaranjado pudessem contrastar
lindamente.
*Baseado linda música do Chico:
http://www.youtube.com/watch?v=ZRLayH21Gnk&hd=1
*Baseado linda música do Chico:
http://www.youtube.com/watch?v=ZRLayH21Gnk&hd=1
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