terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Conselho

- Escuta, vem cá! Eu te decifrei! Finalmente compreendi o enigma por trás do teu olhar! 
Quando teu espírito me disse "decifra-me ou devoro-te", eu relutei. Tive medo de me perder nas tuas metáforas (afinal, as minhas já me angustiam por demasiado!) e permiti que me devorastes. 
Fiz o caminho inverso. Usei esse  tempo em que fiquei escondida na penumbra úmida de tuas entranhas para te estudar e compreender. Escutei as batidas do teu coração de dentro, senti tua respiração passar por mim e vi teu sangue correr mais rápido em alguns momentos especiais. Percebi que foste feito para o amor e para a liberdade... E que os dois caminham sempre de mãos dadas inspecionando o funcionamento de todas as tuas células. Não existe soberania de um sobre o outro e a princípio isso me pareceu bom. Com o tempo, porém, comecei a entender a complexidade daquela relação. Teu amor é livre, moço! Não me pertence não... Quando criaram teu espírito o fizeram sem amarras de nenhuma espécie, então quem sou eu pra querer prender teu amor pra mim? 
Devia ter entendido isso logo a princípio. Teus olhos foram leais a mim e avisaram desde sempre, mas eu preferi que me devorastes a ver a verdade que estava ali, bem na minha frente. Essa pureza tímida e alegria contida que demonstras ao me olhar sempre me trouxe dúvidas. Achava que era só comigo que as usava... Doeu, moço, quando percebi que tua natureza é dividir o que tens de bom com todos. 
Decifrei que gostas de se arriscar, de sentir uma ponta de adrenalina vez por outra. Cativas a todos, mas nem todos te cativam. Gostas de jogar pistas a esses que conseguem galgar com sucesso a jornada até teu coração. Por que não falas, moço? Por que não cantas? Por que complicas tudo? Por medo é que não é, pois se teu sorriso espanta todos os meus medos, o que não já terá feito aos teus? 
Tu não serves de inspiração. Não foi pra isso que te criaram. Eu é que sou teimosa e te uso sempre do jeito errado... Mas calma, agora que te decifrei vou tentar fazer direitinho! Fui eu quem nasceu pra ser inspiração. Eu e meus medos loucos, minha alegria inconstante e espalhada, somada a essa paixão pela vida que tenho.  A minha capacidade de fazer tudo ao léu e de qualquer jeito, estabanar as coisas e colocar a vida (colorida) de pernas pro ar. 
Tu, por outro lado, nasceste foi pra pegar a inspiração pela goela e fazer dela arte. Usa essa tua calma pra arrancar sorrisos tortos! Bota o calor dos teus abraços nas palavras! Há tanta prosa e poesia dentro de ti, rapaz, que faz gosto de se ver! Devias botar tudo isso pra fora e seguir teu destino! 
Eu digo isso porque estive no teu íntimo e vi por lá toda sorte de contos, crônicas, sonetos e sextilhas. Bota isso no papel, moço, que o mundo merece ler! Usa o papel como teu aliado sempre. Não precisas de sentimentos fortes pra escrever, nasceste pra amar e pra falar de amor. 
Agora que te decifrei, não faças como a esfinge. Não te mates, que a morte tem pena de te levar. 
Foge de mim, moço! Corre! Vai embora enquanto é tempo! Se ficares ou eu te mato devagarinho ou tu morres por si só. Não penses em mim, não olhes pra trás, apenas corre o máximo que tuas pernas aguentarem.
Meu coração é terra de nascer roseira, até tem qualquer coisa de bela, mas tem espinhos e aguenta muito sol e pouca chuva. Tenho medo que te fures, te machuques ou morras de sede ou calor. Se a gente mistura a minha terra com a tua faz medo não nascer mais nada, faz medo você não vingar. 
Vai logo embora, que eu nasci pra aprisionar e tu para seres livre. 

sábado, 1 de dezembro de 2012

Ladrão de amor


Manhãs felizes sempre tinham gosto de abacate. Agradava-se de associar o “humor do dia” aos sabores de que gostava, ou que execrava. Noites maravilhosas tinham sabor de chocolate, tardes bucólicas de café com leite e manhãs chuvosas tinham gosto de aveia. Esquecia muito rápido das tristezas e mais ainda das alegrias. Possuía um humor que se metamorfoseava inúmeras vezes dentro de poucas horas. Era absurdamente simples arrancar-lhe um sorriso frouxo e muito difícil roubar-lhe uma lágrima. Chorava apenas de raiva.
            Em outra vida chorara de decepção. De amor. A vida que levava agora, no entanto, não permitia esse tipo de capricho. Quem rouba amor não deve chorar. Um ladrão nunca deve criar expectativas, deve encarar a vida em sua secura e lambuzar-se com o que conseguir levar dela.
Por vezes, parava para pensar que em sua outra vida acharia muito triste a situação em que se encontrava agora. Roubando afeto, afago e amor... Quem diria! Pensava muito em sua outra vida e sabia que um pouco do seu antigo eu ainda estava ali escondido. Policiava-se quando sentia esperança. Esperança para que? Inútil! Deixara a esperança guardada numa antiga caixinha de biscoitos no guarda-roupa de sua outra vida. Nunca mais voltaria ali para buscá-la, sua nova existência não permitia aquele tipo de sentimento frágil.
Expurgara sua vida de tudo que era frágil. Não devem existir ladrões frágeis. Ladrões de amor, então, muito menos. Agora era forte, botava banca, ia lá, pegava o amor pelos colarinhos e o levava. Usava, se deleitava, aproveitava. Depois voltava pra casa de braços dados com a solidão, companheira de cama e bar.
Odiava frio e domingos. A junção dos dois então lhe causava ânsias. O frio era cruel para gente daquele tipo, solitária, e o domingo melancólico. Fingia, no entanto, que a melancolia nunca havia cruzado a soleira de sua porta. Mentira!
Mentira? E o que era verdade naquela vida de faz de conta? Talvez o frio fosse verdade... Sim, o frio era real! A solidão também... Ela era palpável e sempre presente, só podia ser real. E, por fim, devia ser real aquela vontade que sentia de beijar as costas nuas do amor roubado... Isso sem a menor dúvida era de verdade, afinal de contas a impossibilidade de aquilo acontecer doía demais. Dor é sempre realidade. 

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

I


Ela sentou à mesa, olhou para o prato a sua frente, para a taça de vinho e pensou em como o conceito de felicidade é fugaz. Naquele mesmo dia experimentou tristeza profunda e um pico de felicidade. Apenas um. Uma felicidade que tem CPF.
Sorriu - como se quisesse provar ao mundo que mesmo os piores momentos eram incapazes de ofuscar aquela felicidade de espírito que era dela, e imaginou como seria aquela noite. Pensou se deveria falar sobre seus problemas e concluiu que não, se o fizesse certamente iria chorar.
Remexeu com o garfo um pedaço de brócolis na superfície do molho de macarrão. “Comida congelada, que original!”, pensou. Bebeu um gole do vinho, comprado sem pensar pela necessidade de um estimulante para enfrentar o resto daquele dia, e se deu conta de que estava quente... uma porcaria. Olhou pela milionésima vez para o celular e desejou que ele tocasse novamente, pra que pudesse sentir a felicidade de ouvir aquele “ei, moça bonita”, com aquela voz rouca que lhe causava arrepios na espinha.
Como ela seria capaz levar tudo aquilo à frente? Será que crescer era isso mesmo? Encarar a vida de frente; ver alguns amigos irem embora e saber que aquilo é o certo; discutir a possibilidade de se filiar a um partido político; encarar contas e vontades diversas das suas; ter sonhos castrados e ver nos olhos de pessoas próximas que elas acham o seu projeto de vida inútil e falido. Em que momento exato foi que ela começou a pensar mais em contas que em poesia? Como foi que tudo ficou tão pragmático e sem cores? O plano inicial não era aquele, era infinitamente mais simples... Acordar e sorrir pro sol, regar as flores da janela e seguir pra a vida com a alma leve. Agora era capaz de sentir o peso do mundo esmagando a sua alma, diariamente.
As flores morreram, as ilusões se foram, os planos deram errado e o amor era roubado, clandestino. Uma paródia de vida com alguns sorrisos frouxos e saudações de “bom dia” a porteiros desconhecidos. Levantou, pegou o prato e a taça e os levou a pia. Precisava tomar banho, parecer bonita e bem de espírito para quando a felicidade chegasse. 

sábado, 29 de setembro de 2012

Sobre a afinidade, a saudade e o Marcelo Jeneci


Eu não sei nada sobre Espiritismo e sou católica desde sempre. No entanto, acredito em algumas coisas em particular... Acredito em vidas passadas e em almas que já se encontraram antes, acredito em almas que existem para estarem perto uma da outra e para se fazerem bem, mutuamente.
Eu sempre achei que na vida nada acontece sem um motivo, mas ao longo da minha (curta) vida, reconheci algumas almas que eu tenho certeza de que estão comigo a muito tempo, muito... E isso me fez perceber que eu sou um pontinho minúsculo no meio de um plano gigante e encantador.
A afinidade é uma das maiores provas da supremacia da vida. Eu falo de afinidade de almas. Aquela afinidade que você encontra apenas em algumas poucas pessoas e que sempre te emociona. Aquela afinidade que a maioria denomina "amor".
É essa afinidade que faz parecer que a sua existência tem a única finalidade de estar perto daquela outra alma e fazê-la feliz. É ela mesma que faz nascer aquela saudade crônica que parece que jamais vai ser curada. Aquela "fome de presença" que parece aumentar inacreditavelmente segundos depois daquela outra alma ir embora e forma um ciclo vicioso e iluminado.
A afinidade é simples. Tudo que é bom na vida é simples. O gostar não é diferente. Todos os sentimentos mais supremos que um ser humano é capaz de sentir são muito simples. Mas nós somos complexos e, como é de nossa natureza, complicamos a simplicidade toda.

E foi no meio dessa simplicidade toda (ou da busca dela) que eu achei o Marcelo Jeneci. A música "Felicidade" dele fala um pouco sobre isso tudo, por isso segue abaixo o clipe dela (linda!!) :



Espero que gostem :))

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Notas de um sertanejo quase desertor

"O sertanejo é, antes de tudo, um forte" disse Euclides de Cunha. Em tudo acertou o jornalista ao proferir tais palavras...
Nasci no sertão e desde criança sou espectador da luta do povo dessa terra seca e pedregosa, que na vida não tem nada além da sua coragem de lutar e sua sede de água e sobrevivência. As rugas que marcam seus rostos e a pele ressecada pelo sol, que assola sem piedade essa terra e esse povo de meu Deus, servem de testemunhas do sofrimento que cada um passa diariamente pra se sustentar num lugar esquecido pelo país e pela chuva.
No meio do caminho desertei, fui embora para o litoral: onde o verde e a água são mais abundantes que em qualquer sonho de sertanejo. Mas, mesmo longe, não me esqueci da terrinha e da minha admiração por cada homem, no mais honroso sentido da palavra, que conheci no meu sertão. Essa admiração veio desde casa. Minha bisavó materna, quando criança, comeu xique-xique assado na brasa para não morrer de fome em uma seca. Meu avô morou numa gruta de pedra depois que a sua casa pegou fogo. Minha avó vendia galinhas pelos sítios no lombo de um jumento. E com eles eu aprendi a ser forte, a enfrentar as dificuldades da vida de cabeça erguida e a sorrir, sorrir sempre. Afinal de contas assim é o sertanejo.
Quando, como agora, uma seca ataca as terras do sertão, o povo já treinado - que parece nascer sabendo como lidar com a falta d'água - começa a tomar providências para enfrentar a calamidade.

Tristes são as providências.

No caminho do litoral à minha cidade natal, contei mais de vinte carcaças de boi apodrecendo embaixo do sol impiedoso e cercadas de urubus famintos. Tive ainda notícias de que os agricultores estão a matar seus garrotes em casa, antes que estes morram de fome, pois não podem esperar para levá-los a um matadouro. A fila é grande. É muito boi pra morrer. É pouca comida pra alimentá-los. E a carne está cada dia mais barata e o sertanejo cada dia mais pobre.
Semana passada vi na feira uma senhora, já idosa, que trocava perus por sacos de ração pro gado. Tentativa desesperada de salvar as cabeças que ela, tão sofridamente, conseguiu criar e que a seca insiste em querer levar com ela pra debaixo do chão poeirento e pedregoso da caatinga. E quando acabarem os perus, que será do rebanho da senhora?
Não se acham mais ovos de galinha caipira para comprar no sertão. As galinhas não põem, ou ficam doentes, ou bebem os ovos.
Andando pelos sítios, embaixo da poeira vermelha que toma conta da estrada, vez por outra damos com uma porta aberta, um cristão sentado na calçada e um sorriso no rosto.
É sorridente o sertanejo. É feliz. Um forte, como citei a princípio.
Enfrenta a natureza, uma inimiga forte e destinada. Enfrenta a morte, que bate todos os dias à sua porta. Enfrenta Deus e lhe faz pedidos humildes e simples: "- Que chova, Senhor! Que eu tenha o que dar de comer aos meus filhos... Que meu rebanho sobreviva à seca."

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Assim falava a canção que na América ouvi...

Não sei bem expressar os motivos que me levaram a escrever esse texto, tenho alguns palpites, mas acho que nem vale a pena expor... Mas, independente das razões que me levaram a ele, quero dedicá-lo aos meus  amigos: Espero que vocês se reconheçam nas minhas palavras.



O que é um amigo? Por muito tempo eu pensei não ser a pessoa mais adequada para responder essa pergunta. Mas o tempo foi passando, algumas determinadas pessoas foram entrando na minha vida e agora acredito que já posso fazer a primeira tentativa de respondê-la.
Já me perguntaram por que eu tenho poucos amigos, e na época, apesar de muito criança, respondi que tinha poucos pois conservava apenas os verdadeiros junto de mim. Nesse ponto eu não mudei em nada, a diferença é que com as andanças eu fui achando nesse Brasil de meu Deus vários desses "verdadeiros".
Amigo verdadeiro é aquele que te ama e faz com que você tenha conhecimento disso através das atitudes e palavras dele. É aquele que te apóia e lê o seu livro que está uma droga e diz que ficou maravilhoso. Aquele que tem um sorriso frouxo só esperando por você e não tem ressalvas em te presentear com ele. É aquela pessoa com quem você se diverte imensamente sem se esforçar absolutamente nada e sendo apenas quem você é. O Amigo ama quem você é de verdade, com as suas potencialidades, fragilidades, alegrias, tristezas e chatices. É aquela pessoa que está ali mesmo sem estar, mesmo estando a muitos quilômetros de distância, mas que você sabe que está nessa com você e por você pro que der e vier. Amigo é aquele que cria o apelido mais fofo do mundo pra você e pronuncia-o com entonação de carinho. É aquele que ama aquela sua cara ridícula de "não vai embora não" e pede pra você fazer ela sempre. O amigo compartilha as alegrias e tristezas dele com você e você se alegra ou entristece junto com ele. É aquela pessoa que você passa anos e anos sem ver e quando isso acontece parece que vocês se viram a um dia, porque nada mudou na amizade. Amigo é aquele que te apóia na sua insana decisão de fazer jornalismo.   É aquela pessoa que te faz feliz pelo simples fato de existir, respirar e ser seu amigo. O amigo te ensina Rosacrucianismo e meditações por MSN pra te ajudar a superar suas tristezas. É aquela pessoa que te conhece tão bem e sabe o que é bom pra você, tenta te ajudar e está sempre ali. É aquele que sabe as palavras certas pra te dizer e serve de ombro amigo pra você chorar e chorar.  É aquele que faz piada e é palhaço só pra te fazer rir. Amigo é aquela pessoa que faz aquele programa "cinema, pipoca e sofá de casa" ser o melhor programa de todos. É aquele que te põe pra cima, te alegra e tira a fina força aquele sorriso que você não se achava capaz de dar.


sexta-feira, 11 de maio de 2012

Companhia paraibana de teatro Turma do Meio prepara espetáculo “Milk-Shakespeare” sob direção de Bia Cagliani


Bia Cagliani estuda teatro, dança e música desde criança, porém a partir dos 12 anos passou a encarar a arte como profissão. Estudou Ballet Clássico e Dança Contemporânea sob a orientação da coreógrafa Rosa Cagliani e, mais tarde, com Canízio Vitório. No teatro foi aluna de Valeska Picado, Cristóvam Tadeu e Débora Zambón. Bacharel em Ciências Sociais pela UFPB (2005), obteve também o título de Especialista em Representação Teatral pela mesma instituição (2009). É integrante do grupo Deuzeruora Vamimbora (teatro) e ACena (dança) e dirige o grupo Turma do Meio (teatro).
Foto: Luana Lima
Desde 2002 integra o corpo docente da Fazendo Arte, ministrando aulas de teatro e dança para crianças e jovens, coordenando eventos e dirigindo espetáculos. Faz parte do Coletivo Sanhauá, grupo de artistas de diversas áreas que, instalados na Fundação Casa de Cultura Cia. da Terra, promovem projetos sociais e eventos culturais para diversos públicos principalmente os situados no Porto do Capim. Participa ainda do Varadouro Cultural, conjunto de coletivos e grupos que visam fomentar a cultura no centro histórico da capital paraibana. Ela ocupa ainda o cargo de Gerente Operacional de Difusão da Dança da SECult-PB desde fevereiro de 2011.
O meu primeiro contato com Bia se deu por meio da peça “Através do Espelho – Viagens de Lewis Carrol sobre as aventuras de Alice”, da Turma do Meio. Eu precisava fazer um ensaio fotográfico para a matéria de Fotojornalismo na universidade e vi nos corredores do Decom um cartaz da peça, o que me deu a idéia de fotografá-la. Cheguei em casa e fui pesquisar na internet sobre o grupo de teatro e acabei encontrando a página deles no facebook. Dentre os integrantes, e por algum motivo desconhecido, resolvi falar com Bia, mesmo sem saber que era ela a diretora da Turma. A conheci momentos antes da estréia da peça e me deparei com uma moça simpática e de uma personalidade bem definida que pode ser percebida até pelos que, como eu, não a conhecem.  Numa correria danada ela organizava o cenário.
O espetáculo me deixou encantada... A beleza dos figurinos, a produção e especialmente a competentíssima atuação dos atores me fez ter mais uma vez a certeza de que a Paraíba possui tesouros que nem ao menos conhece. Assisti “Através do Espelho” duas vezes e nos dias em que a peça ficou em cartaz tentei veementemente convencer o maior número possível de pessoas do meu ciclo de amizades a ir ver o espetáculo. A Turma do Meio, sob direção de Bia, monta agora um trabalho chamado Milk-Shakespeare, em cujo texto vários personagens e tramas shakespereanos se entrelaçam. A idéia é que o espetáculo seja apresentado na rua, de modo que as músicas serão executadas ao vivo. Algumas foram canções compostas originalmente, outras são de saber popular e também em homenagem a Luiz Gonzaga.

De onde veio a idéia do espetáculo Milk-Shakespeare?
Milk-Shakespeare nasceu no fim de 2007 a partir de um exercício da sala de aula onde o ponto de partida eram homenagens a célebres nomes ou cenas das artes (dança, teatro, música e cinema) para um festival de encerramento da Fazendo Arte. A Turma escolheu, não lembro se por sugestão minha ou de outro integrante, homenagear William Shakespeare. Fizemos um estudo de diversas peças do autor inglês, discutimos o roteiro básico e depois começamos a mesclar os diálogos originais das tramas para criar nossa própria história de Romeu e Julieta. A primeira apresentação ocorreu em dezembro do mesmo ano. Na época, André Honor, Ali Cagliani, Lara Torrezan e Mariah Benaglia ajudaram a pesquisar e criar tudo. Ainda contamos com Guilherme Honorato que participou da criação dramatúrgica, mas não chegou a integrar a encenação. O projeto ficou parado, meio que esperando a hora certa de reaparecer. No começo deste ano estávamos precisando dar uma revitalizada no grupo e pensei que trazer de volta o projeto de Milk-Shakespeare seria uma boa. Eu confesso que estava com várias idéias loucas e precisando colocá-las em prática. O elenco é bem disposto e entra em todas as minhas loucuras. Milk-Shakespeare saiu do formato mais convencional do palco italiano e agora vai para as ruas. Está sendo todo revisto, da dramaturgia à encenação. É outra peça, outra cara, outra energia! Estamos todos muito empolgados!

Quem é o elenco do espetáculo?
O elenco é formado por Ali Cagliani, Diógenes Ferraz, Mariah Benaglia, Marilia Alcoforado, Rodolfo Marques e Thayná Peixoto.

Para quando está prevista a estréia?
Ainda estamos em processo de montagem. A idéia é que façamos ensaios abertos para testar algumas coisas. Pensamos que na segunda quinzena de junho já vai estar tudo pronto pra começarmos estes ensaios. A estréia em si é difícil precisar, provavelmente em algum evento do Varadouro Cultural ou do Coletivo Sanhauá.

Quais são os maiores obstáculos que vocês estão enfrentando nesse projeto novo?
O maior obstáculo é pensar a peça pra rua. Nunca fizemos isso. Eu já participei de performances e experimentos para espaços alternativos, mas nunca para a rua. Não teremos cenário ou estrutura de espetáculo. A proposta é chegar num espaço aberto e ir abrindo caminho, chamando a atenção, cativando o olhar apenas com a história e com a encenação. Isso é muito mais complicado do que simplesmente levar um cenário, um equipamento de luz e som e fazer um espetáculo NA rua! Por isso estamos pensando nesses ensaio abertos não divulgados. Tem muita coisa que queremos testar e experimentar e só podemos fazer isso com o público que queremos atingir, isto é, todo mundo que estiver passando!

Como vocês conseguiram unir a música de Luiz Gonzaga e a obra de Shakespeare?
Na verdade foi por acaso. Eu só trabalho com música tocando. Um dia calhou de estar ouvindo Luiz Gonzaga e eu pensei: essa música tem tudo a ver com a cena tal! Mandei direto pro e-mail do elenco propondo acrescentarmos na cena. Eles toparam e aí está a mistura: Luiz Gonzaga e William Shakespeare!

Como surgiu a Turma do Meio?
Bom, a Turma do Meio surgiu como literalmente o nome diz. Era a turma do meio do curso de teatro da Fazendo Arte. Haviam as crianças, os jovens e os adolescentes começaram a chamar sua turma de Turma do Meio, isso antes mesmo do grupo virar realmente um grupo. Como em todo curso da escola eles produziram bastante coisa, esquetes, pequenos espetáculos, performances... Mas eu particularmente considero 2008 a virada da Turma. Começamos a produzir o show-espetáculo do músico Erick de Almeida e a partir daí foi tudo se consolidado enquanto grupo que tenta ser profissional.

Foto: Daniel Jesi
Você é a diretora da Turma, mas você também atua ou fica só na parte da direção?
O papel de diretora me cai melhor na Turma do Meio... Me reservo a atuar em outros espetáculos da Fazendo Arte como Deuzeruora e no Acena. Essa história de dirigir e atuar no mesmo espetáculo é pra quem tem múltiplas personalidades e, apesar de ser geminiana, não sei ainda assoviar e chupar cana! (risos)

Quanto tempo, em geral, se passa desde quando um projeto como o Milk-Shakespeare, por exemplo, é pensado e a estréia? Quais são as etapas pelas quais ele passa?
Isso vai depender muito do projeto. "Milk-Shakespeare" e "Etcétera e Reticências" foi bem mais simples e rápido do que "Através do Espelho", por exemplo. Os três tiveram as mesmas etapas, porém com tempo de duração distinto. Na Turma do Meio começamos sempre com a parte de pesquisa. Depois a gente começa a brincar de criar, a jogar, improvisar. A partir daí umas idéias vão surgindo e vai se formatando mais na minha cabeça o conceito do trabalho. Procuro sempre discutir tudo com o elenco e com os outros integrantes do projeto. Gosto dessa coisa de processo coletivo, colaborativo, onde todo mundo da idéia e tem aquele momento de caos criativo de mil brainstorms! A partir daí vem a parte de fixar o que deu certo e ir testando e experimento o que não deu. E quando você estréia ainda há chances de descobrir muitas coisas que nunca tinha percebido ou que poderiam ter uma saída melhor.



A Fazendo Arte é um projeto da sua mãe... Como ele começou e desde quando você e os seus irmãos estão à frente dele?
O projeto da fazendo Arte começou entre 1994 e 1995, na ocasião da construção do Teatro Ednaldo do Egypto. Minha mãe, Rosa Cagliani, e meu pai, Carlos Anísio eram parceiros do ator e teatrólogo Ednaldo na construção e elaboração da ideia do teatro. Minha mãe ficaria a cargo da parte de dança e lá montou uma sala de aula bem bacana. E assim começou a escola em 1995... A Fazendo Arte veio primeiramente como uma colônia de férias e no ano seguinte virou o nome da escola de teatro e dança. Com o passar do tempo saímos do Teatro e fomos para uma sede própria. A idéia da minha mãe era abrir um espaço onde crianças e jovens pudessem aprender a criar artisticamente e assim foi tocando o barco por mais de dez anos.
Em 28 de abril de 2008 minha mãe acabou falecendo. Ela ia completar 51 anos em dezembro e o problema no coração foi algo bem de repente. Ela passou mal numa madrugada, durante o dia ela fez cirurgia e na noite seguinte morreu. “Mainha” era uma daquelas figuras que conquistavam todo mundo rapidamente, e ela considerava (e tratava) a todos como se fossem filhos dela! Enfim... No meio daquela comoção toda de morte, velório, enterro, homenagens, a gente conseguiu reunir a família (eu, minha irmã Ali e meu irmão Caio) e os professores da escola na época (Canízio Vitório, Luana Lima, Nana Vianna, Valeska Picado, e mais alguns colaboradores) para discutir a viabilidade de continuarmos projeto da Fazendo Arte, que agora já havia crescido, abrigando além das aulas de dança e teatro, outras linguagens como o circo e a música e ainda grupos de teatro e dança (Deuzeruora Vamimbora e Turma do Meio, no teatro, e Acena Dança e Ensaio Cia de DançaTeatro, na dança). Decidimos então assumir tudo, dividimos tarefas e passamos o ano tentando aprender tudo. Já os anos seguintes foram mais fáceis. Com o passar do tempo a gente vai pegando o jeito da coisa!

A Fazendo Arte tem vários projetos paralelos, não é? Quais são eles?
Como falei antes, a Fazendo Arte começou apenas como uma escola. Haviam aulas de teatro e balé clássico para crianças, adolescentes, jovens e adultos. Depois entrou a dança contemporânea, o jazz, o circo e a música. Os alunos antigos iam se solidificando e com o passar dos anos ia aparecendo neles a necessidade de formar grupos mais fixos. O Deuzeruora Vamimbora foi o primeiro em 2001, depois surgiu o ACena Dança em 2003 e a Turma do Meio já em 2008. Outros grupos se formaram com o passar dos anos, porém não a partir de turmas já existentes na escola tais como o Alienígenas (música), Engenho Imaginário (teatro) e Ensaio Cia de DançaTeatro (dança).
Além dos grupos, a Fazendo Arte - Teatro e Dança integra o Coletivo Sanhauá. Inicialmente era apenas um colaborador e desde 2011 participa ativamente das reuniões, projetos e produções do Coletivo. O Sanhauá, diferentemente dos coletivos atuantes na cidade, trabalha com a multilinguagem. Temos designers, produtores, músicos, atores, bailarinos, grupos de dança, de teatro, bandas, cineastas... De tudo um pouco! Além de tudo a gente da Fazendo Arte (eu e os integrantes dos grupos) podemos realizar uma parte da escola que nunca tínhamos “tido perna pra alcançar”: a dos projetos sociais. O Coletivo junto com a Fundação Casa de Cultura Cia. da Terra promovem um projeto de educação patrimonial chamado Subindo a Ladeira junto com professores e alunos da UFPB, visando dar visibilidade e voz à população do Porto do Capim.
Em consequência de participar do Coletivo Sanhauá, a Fazendo Arte acaba integrando também o Varadouro Cultural, movimento de grupos, coletivos e artistas da sociedade civil que busca dar visibilidade às produções do centro histórico da cidade.

Como surgiu o projeto de “Através do Espelho”?
No fim 2007 o grupo estava procurando um novo projeto. Cada um saiu lançando idéia. E numa votação a escolha foi "Alice no país das maravilhas". No comecinho do ano seguinte tínhamos já uma agenda fechadinha com o show-espetáculo "Etcétera e Reticências". Preparamos um estudo de mais de um ano dos dois livros. Toda semana líamos um capítulo e discutíamos o que era interessante, trocávamos idéias... Foi um processo bem longo, principalmente pelo fato da Turma só se reunir uma vez por semana. No fim de 2010 submetemos ao edital do FMC (Fundo Municipal de Cultura) e fomos aprovados. Recebemos um patrocínio bacana que nos possibilitou viajar um pouco mais. Fizemos figurino específico, músicas originais, cenário... Em 2011 foi a primeira temporada. Foi bem bacana, mas percebemos que havíamos deixado passar muita coisa e programamos para acertar tudo em 2012. Porém parte do elenco não pôde mais continuar no trabalho por diversos motivos, portanto deixamos em stand by neste primeiro semestre. No fim do ano voltamos aos trabalhos de "Através do Espelho" com força total.
Foto: Guilherme Honorato
Como se deu o projeto das Oficinas de “Através do Espelho”? Elas foram uma conseqüência do espetáculo ou já foram pensadas desde o início do projeto? Qual foi o saldo dessas oficinas?
As oficinas foram pensadas especificamente para o edital do FMC. Existe a exigência de realizar uma contrapartida social, fato que achamos totalmente válido, afinal estamos usando dinheiro público para produzir o espetáculo! Enquanto discutíamos o formato do projeto a ser apresentado, chegamos à conclusão que oficinas seriam muito mais proveitosas para o público do que simplesmente cedermos apresentações que provavelmente poucas pessoas iriam assistir.
O saldo foi o melhor possível. Todas as três oficinas foram ministradas gratuitamente para o público em geral por integrantes da Turma do Meio com uma média de 15 participantes cada. Conhecemos muita gente interessante e interessada em arte. Foi uma troca magnífica. Inclusive nosso mais novo integrante veio delas! Também convidamos outras pessoas, mas por motivo de tempo não puderam se juntar a nós.

A veia artística é algo bem explícito na sua família. Você já pensou em seguir outra carreira?
Na verdade ser artista é algo natural na minha família. Minha mãe era bailarina, coreógrafa, diretora, iluminadora, etc, etc... Meu pai é músico, maestro, arranjador, etc, etc... Minha irmã é atriz, cantora, bailarina, iluminadora... Meu irmão é ator, estudante de cinema... Eu sou também um monte de coisas... Acho que pensar em fazer outra coisa eu já pensei. Algo do tipo: como seria minha vida se eu não fizesse o que eu faço? Até enveredei por outras áreas na época da faculdade. Sou formada em Ciências Sociais pela UFPB. Mas mesmo assim pesquisei sobre cinema na minha monografia! (risos) Acho que não havia escapatória! É uma vida árdua, trabalhosa, cheia de percalços, mas divertida, colorida e inusitada. Vou parar de fazer propaganda senão todo mundo vai querer ser artista e não vai sobrar lugar pra mim! (risos)

Pra você, qual é o maior desafio de se fazer teatro na Paraíba?
O maior desafio é se sustentar disso. Não tem como ser artista profissional! Não falo só de teatro, mas também de dança, música, artes plásticas, cinema, fotografia... Ser artista na Paraíba é batalhar 24h por dia, 7 dias por semana, 365 dias no ano, sem folga, férias ou feriado e ainda viver no aperto, pois num mês a gente fica "rico" e no outro não ganha um centavo. O público não dá valor, as empresas não apóiam... É complicado competir com a TV, com as produções de fora do estado e com as comédias baixo nível que são as únicas que lotam os teatros da cidade e do estado! Acho que deve ser por isso que todo artista tem um quê de louco! Não tem como ser são e topar enfrentar tudo isso rindo e de bom humor (risos). Confesso que prefiro muito mais ser louca a ser sã se para possuir esta tal estabilidade eu tiver que trabalhar num banco ou fazer algum concurso para uma área que não me interessa em nada!

domingo, 22 de abril de 2012

Crônica dos Domingos

Hoje é domingo. Domingo, missa, praia, céu de anil, como na música do Raul. Com direito a sangue no jornal e bandeiras na avenida Zil também, exatamente igual a todos os outros domingos.
Eu odeio o domingo. Acho-o, em si, potencialmente chato e tedioso em qualquer ocasião, dia ou ano.
Há no domingo uma atmosfera repetitiva que me irrita profundamente, talvez porque eu gosto de coisas novas, que me alegram, emocionam, chocam... Esse tipo de coisa jamais acontece aos domingos.
No entanto, em meio a isso tudo e talvez para servir de prova da previsibilidade dos domingos, sempre neste dia pela manhã acontece um fenômeno fascinante aqui em casa. Fascinante pra mim, pelo menos.
Sempre por volta das 9:30h escuta-se na sala de jantar daqui de casa músicas que vêm de um apartamento no prédio vizinho. Músicas boas, que eu amo. Religiosamente a cada domingo desfia-se coletâneas de Elis, Caetano, Chico, Gil, Milton, Djavan e toda a nata da MPB.
Eu nunca vi os moradores do dito apartamento, mas os imagino... Devem ser uma família de quatro pessoas, cujos pais têm mais ou menos 56 anos. O casal de filhos está na faixa dos 22 ou 23 e o menino faz medicina e a menina História, ou Direito. Nenhum deles têm muito tempo durante a semana, por isso aos domingos todos se reúnem em casa e colocam as conversas em dia enquanto o pai cozinha algo que todos gostam. Enquanto o almoço está sendo feito apreciam o prazer em comum de ouvir MPB, gosto herdado dos pais, pelos filhos. Por fim a família se reúne à mesa para fazer a refeição entre taças de vinho tinto, uma apetitosa travessa de salada no centro da mesa e muitos sorrisos e afeto.
Claro que essa minha visão é muito lírica e jamais poderia ser de outra forma, sendo eu irreparavelmente lírica desde que nasci. Gosto de imaginar essas coisas quando escuto as músicas aos domingos e digo ainda que nada escuto neste dia pela manhã, pois o gosto do habitante do apartamento no prédio ao lado é tão refinado que eu jamais ousaria colocar alguma música para ouvir aqui. Prefiro roubar um pouquinho da dele, filar a música do vizinho.
Quem sabe o habitante do apartamento não é uma mulher solteira e sozinha que odeia o domingo e escuta as músicas para aliviar sua tristeza e lembrar dos tempos em que era jovem e feliz? Espero jamais saber, afinal de contas há algo de majestoso no mistério e eu prezo muito esse tipo de coisa.

sábado, 21 de abril de 2012

Sobre sonhos e blá blá blá...

Shakespeare disse que os sonhos são na verdade ambição. Talvez eles sejam mesmo... Talvez sonhar seja uma forma individualista de se dizer ao mundo o que a gente espera de nós mesmos e do próprio mundo, e talvez isso seja ambição... Mas será que sonhar é ser ambicioso? Eu acredito que não. O próprio  Shakespeare não acreditava nisso ao dizer que a própria substância do ambicioso é apenas sombra de um sonho.
Eu acredito muito em sonhos, acredito que são eles que nos movem. Sonhos, ideais, ideologias, idéias, aspirações... Essas coisas fazem o que nós somos de verdade, fazem o nosso caráter, o nosso jeito de ser.
Acho que se a gente não sonhasse não existiria um motivo pra se acordar todos os dias. Seria como desistir. Desistir de se ter um mundo melhor, um emprego melhor, mais árvores, uma música melhor, um carro, um cachorro, um amor, uma política melhor, filhos, um país melhor, o que comer, dinheiro, onde dormir, um ioiô, e seja lá o que mais que as pessoas sonhem.
Não sonhar é se conformar com o mundo e com a gente, é não querer mudar. A gente precisa de mudanças, porque o mundo muda a cada segundo... Eu não serei a mesma ao terminar de escrever esse texto nem você será o mesmo ao terminar de lê-lo. O mundo também não será o mesmo. Quantos tratados foram fechados nesse curto espaço de tempo? Quantas crianças nasceram? Quantas pessoas morreram? Quantos poemas foram escritos? Quantos amores começaram e quantos terminaram? O quanto as pessoas que estão à sua volta mudaram? O quanto o país mudou? Se a gente não sonhar, não mudar, tudo fica estagnado e isso seria uma tragédia. Tudo tem que mudar a todo tempo porque assim existe uma chance maior das coisas entrarem nos eixos, ou pelo menos chegarem mais perto disso.
Muita gente pode achar uma bobagem enorme tudo isso que eu escrevo aqui, mas eu não me importo. Nesse texto está a minha visão de mundo e em cada linha dele estão escondidos os meus sonhos. Eu sonho que serei uma pessoa melhor, uma profissional melhor. Sonho que as pessoas vão sonhar mais e vão correr atrás do que elas sonham. Eu sonho que os sonhos das pessoas não passem por cima dos sonhos de outras. Eu sonho que as pessoas vão respeitar os meus sonhos e eu vou respeitar os sonhos delas. É assim que deveria ser.
Uma pessoa me falou que jornalistas no início da carreira são muito apegados a ideologias bobas, mas que ideologias não colocam dinheiro na conta de ninguém. Pois bem, eu assumo. Eu sou apegada às minhas ideologias sejam elas bobas ou não, mas enquanto eu assim estiver vou poder dormir bem à noite sabendo que não traí quem eu sou e nem quem eu sonho ser. Talvez o jornalismo dos meus sonhos não exista, mas eu vou lutar diariamente pra que ele seja cada dia mais real.



"Existem vários corações batendo dentro do peito de um ser humano. Corações de éter, de neve, de inverno, de gelo. Corações frios em busca de sentimentos que os aqueçam baseados em sentimentos muito mais fáceis de ser cantados do que realmente sentidos. De manifestações humanas que extrapolam o conceito científico e promovem sensações e entendimentos que aproximam aquele que é criado de seu Criador.
Essas manifestações nascem primeiro da dúvida promovida pela dor e fazem o mundo parecer menor do que é. E fazem também parecer a vida desse tamanho. Entretanto, nenhuma pessoa deveria acreditar que existe tamanho para a vida, ou um tamanho para o mundo, ou para a energia que move esse mundo.
Pois o homem sobrevive através do trabalho, mas vive através do sonho.
E o sonho nasce de sentimentos que só podem ser despertados através de uma busca. São sentimentos que nascem de uma resposta para uma dúvida que assola cada criatura oriunda de uma criação. Uma dúvida pela qual alguns homens poderiam morrer.
E muitos outros poderiam viver.
Mas quem seria capaz de morrer, ou viver, por uma pergunta e uma resposta? A resposta: depende da pergunta.
Mas depende muito mais da própria resposta.
Uma resposta de uma dúvida ansiada por mortais e por semideuses. Uma resposta procurada por criaturas e por criadores, em diversos locais onde ela não está.
Uma resposta capaz de mudar o mundo.
Quantas guerras serão necessárias para que tenhamos um pouco de paz?
Uma. No fim de todas as contas, será preciso apenas uma. Em longas trincheiras rodeadas por egos humanos.
Dentro de cada um dos nossos mais diferentes corações."       -     Dragões de Éter - Corações de Neve