domingo, 22 de abril de 2012

Crônica dos Domingos

Hoje é domingo. Domingo, missa, praia, céu de anil, como na música do Raul. Com direito a sangue no jornal e bandeiras na avenida Zil também, exatamente igual a todos os outros domingos.
Eu odeio o domingo. Acho-o, em si, potencialmente chato e tedioso em qualquer ocasião, dia ou ano.
Há no domingo uma atmosfera repetitiva que me irrita profundamente, talvez porque eu gosto de coisas novas, que me alegram, emocionam, chocam... Esse tipo de coisa jamais acontece aos domingos.
No entanto, em meio a isso tudo e talvez para servir de prova da previsibilidade dos domingos, sempre neste dia pela manhã acontece um fenômeno fascinante aqui em casa. Fascinante pra mim, pelo menos.
Sempre por volta das 9:30h escuta-se na sala de jantar daqui de casa músicas que vêm de um apartamento no prédio vizinho. Músicas boas, que eu amo. Religiosamente a cada domingo desfia-se coletâneas de Elis, Caetano, Chico, Gil, Milton, Djavan e toda a nata da MPB.
Eu nunca vi os moradores do dito apartamento, mas os imagino... Devem ser uma família de quatro pessoas, cujos pais têm mais ou menos 56 anos. O casal de filhos está na faixa dos 22 ou 23 e o menino faz medicina e a menina História, ou Direito. Nenhum deles têm muito tempo durante a semana, por isso aos domingos todos se reúnem em casa e colocam as conversas em dia enquanto o pai cozinha algo que todos gostam. Enquanto o almoço está sendo feito apreciam o prazer em comum de ouvir MPB, gosto herdado dos pais, pelos filhos. Por fim a família se reúne à mesa para fazer a refeição entre taças de vinho tinto, uma apetitosa travessa de salada no centro da mesa e muitos sorrisos e afeto.
Claro que essa minha visão é muito lírica e jamais poderia ser de outra forma, sendo eu irreparavelmente lírica desde que nasci. Gosto de imaginar essas coisas quando escuto as músicas aos domingos e digo ainda que nada escuto neste dia pela manhã, pois o gosto do habitante do apartamento no prédio ao lado é tão refinado que eu jamais ousaria colocar alguma música para ouvir aqui. Prefiro roubar um pouquinho da dele, filar a música do vizinho.
Quem sabe o habitante do apartamento não é uma mulher solteira e sozinha que odeia o domingo e escuta as músicas para aliviar sua tristeza e lembrar dos tempos em que era jovem e feliz? Espero jamais saber, afinal de contas há algo de majestoso no mistério e eu prezo muito esse tipo de coisa.

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