quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Paratodos

Olá pessoal! Hoje eu vou escrever sobre uma música do Chico Buarque intitulada "Paratodos". 

Essa música é, segundo Wagner Homem, fruto de uma crise de idade que o compositor teve ao completar 50 anos, na qual ele cantarolava: "Vou fazer 50 anos/ Sou artista brasileiro/ Sou do Rio de Janeiro". É também uma brincadeira com o hábito que Tom Jobim tinha de discorrer sua genealogia, dizendo: "O meu pai era gaúcho, o meu avô era de Leme, em São Paulo, o meu bisavô era cearense, e eu sou até primo de Vinícius!". 
A música discorre também uma genealogia, porém a de Chico: "O meu pai era paulista/ meu avô, pernambucano/ o meu bisavô, mineiro/ meu tataravô, baiano". O compositor coloca ainda o amigo Tom Jobim (Antonio Brasileiro) no alto da "árvore genealógica" no papel de maestro soberano, ao lado de outros artistas, "parentes". 
Segue a letra e o vídeo:


Paratodos

"O meu pai era paulista
Meu avô, pernambucano
O meu bisavô, mineiro
Meu tataravô, baiano
Meu maestro soberano
Foi Antonio Brasileiro

Foi Antonio Brasileiro
Quem soprou esta toada
Que cobri de redondilhas
Pra seguir minha jornada
E com a vista enevoada
Ver o inferno e maravilhas

Nessas tortuosas trilhas
A viola me redime
Creia, ilustre cavalheiro
Contra fel, moléstia, crime
Use Dorival Caymmi
Vá de Jackson do Pandeiro

Vi cidades, vi dinheiro
Bandoleiros, vi hospícios
Moças feito passarinho
Avoando de edifícios
Fume Ari, cheire Vinícius
Beba Nelson Cavaquinho

Para um coração mesquinho
Contra a solidão agreste
Luiz Gonzaga é tiro certo
Pixinguinha é inconteste
Tome Noel, Cartola, Orestes
Caetano e João Gilberto

Viva Erasmo, Ben, Roberto
Gil e Hermeto, palmas para
Todos os instrumentistas
Salve Edu, Bituca, Nara
Gal, Bethania, Rita, Clara
Evoé, jovens à vista

O meu pai era paulista
Meu avô, pernambucano
O meu bisavô, mineiro
Meu tataravô, baiano
Vou na estrada há muitos anos
Sou um artista brasileiro".





Na música são citados diversos artistas, são eles:


Tom Jobim, Dorival Caymmi, Jackson do Pandeiro, Ari Barroso, Vinícius de Morais, Nelson Cavaquinho, Luiz Gonzaga, Pixinguinha, Noel Rosa, Cartola, Orestes Barbosa, Caetano Veloso, João Gilberto, Erasmo Carlos, Jorge Ben Jor, Roberto Carlos, Gilberto Gil, Hermeto Pascoal, Edu Lobo, Milton Nascimento ("Bituca"), Nara Leão, Gal Costa, Maria Bethânia, Rita Lee, Clara Nunes.


sábado, 13 de agosto de 2011

Estrela Miúda

Gente, hoje eu vou escrever sobre uma música muito linda! Essa é uma composição de João do Vale e Luiz Vieira, que no vídeo abaixo é interpretada pela Maria Bethânia. A música é belíssima e a voz da Bethânia ainda mais, enfim, espero que vocês gostem. Segue a letra e o vídeo:

Estrela Miúda

"Estrela miúda que alumeia o mar
Alumiá terra e mar
Pra meu bem vir me buscar
Há mais de um mês que ela não
Que ela não vem me olhar

A garça perdeu a pena
Ao passar no igarapé
Eu também perdi meu lenço
Atrás de quem não me quer

Estrela miúda que alumeia o mar
Alumiá terra e mar
Pra meu bem vir me buscar
Há mais de um mês que ela não
Que ela não vem me olhar

A onda quebrou na praia
E voltou correndo do mar
Meu amor foi como a onda
E não voltou pra me beijar."



sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Ontem sonhei...

Ontem sonhei que era criança novamente, e tudo era como antes. Ainda haviam árvores em abundância, pássaros e crianças brincando descalças na rua. Havia moleques andando sem camisa por aí e a violência era um assunto quase esquecido. 
Do sonho, lembro-me bem de uma igreja linda, de uma só torre, com arquitetura antiga e uma grade baixa que a cercava. Ela ficava em uma esquina e a rua a sua frente possuía no meio um canteiro cheio de árvores. As lembranças não são muito ricas em detalhes, infelizmente, porém me enchem de ternura e me fazem sentir que eu amava muito o lugar.
Ontem sonhei que andava em uma praça ampla, cheia de palmeiras e com um monumento no meio. Ao redor dela haviam prédios antigos e belos, bem conservados. A praça me fazia ter uma sensação de liberdade, me fazia bem.
Ontem sonhei que olhava para um rio belíssimo, de cima de uma varanda alta. Logo abaixo de mim, descendo a ladeira, haviam casas antigas. O sol já se punha e a paisagem era estonteante... Diante do espetáculo, tive mais uma vez a certeza de que Deus existe, e nos ama.
Ontem sonhei que estava em um vão quadrado, e cercado de colunas. Não parecia uma praça, na verdade era no meio de uma construção grande... Poderia ser um colégio ou um mosteiro. Não consegui entender bem que lugar era aquele, mas tive a impressão de já ter estado lá antes.
Ontem sonhei que caminhava na margem de um rio largo, parecia um braço de mar. Era à tardinha e bem no meio do rio, em uma canoa, um homem tocava saxofone... Reconheci a música e achei-a belíssima, mas não consegui lembrar-me do nome dela. O sol morrendo, o rio e o barquinho formavam uma vista tão linda que senti meus olhos marejarem.
Ontem, sonhei que visitava João Pessoa, mas não a João Pessoa de hoje, conturbada. Sonhei com a cidade de quando eu era criança, para onde eu viajava pra visitar meu tio. A cidade dos pés de jambo, das lavadeiras, dos casarões, dos passeios a pé pelas ruas perto da paróquia, da tranquilidade, das crianças brincando na rua, dos adultos sentados na calçada.  
No meu sonho tudo tinha cara de infância, mas isso é bobagem minha... A cidade mudou tanto, e talvez por isso escrevo com esse tom de nostalgia. Mudou muito mas continua linda, como era no meu sonho. 
Afinal, a Igreja de Nossa Senhora de Lourdes ainda está lá, e a Avenida João Machado ainda tem árvores no canteiro, como quando eu era criança e passava as férias na casa paroquial... A praça João Pessoa continua linda, como no meu sonho, e ainda me sinto bem quando passo por lá... O Rio Sanhauá ainda me encanta e surpreende, todas as vezes que o vejo pela varanda do Hotel Globo...  A Igreja de São Francisco ainda é maravilhosa, e seu pátio cheio de colunas sempre me trás a sensação de ser criança novamente... O Bolero de Ravel ainda me emociona, e a paisagem da praia do Jacaré me dá arrepios, ao entardecer...
Acho que a melancolia que encharca esse texto é mais por saudades da infância, quando eu prestava mais atenção nesses lugares. Pois que agora João Pessoa completa 426 anos, e continua tão linda como no meu sonho. 


Esse texto eu dedico ao meu tio Alberto, quem primeiro me apresentou a essa cidade linda, na qual agora resido e que aqui homenageio; e dedico também a todos os amigos que encontrei nesse lugar, tão longe de casa e com tanta cara de lar.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Garça Triste

Hoje eu vou escrever sobre um trecho de poema do Castro Alves.
O poema original se chama "Tragédia no Lar" e fala sobre uma negra que, na senzala, canta uma cantiga pra ninar o filho. Este, com frio, choraminga nos seus braços. Pois que a cantiga é de uma beleza simples e triste, e me encanta profundamente. Segue abaixo:


"Eu sou como a garça triste
Que mora à beira do rio,
As orvalhadas da noite
Me fazem tremer de frio.

Me fazem tremer de frio
Como os juncos da lagoa;
Feliz da araponga errante
Que é livre, que livre voa.

Que é livre, que livre voa
Para as bandas do seu ninho,
E nas braúnas à tarde
Canta longe do caminho.

Canta longe do caminho.
Por onde o vaqueiro trilha,
Se quer descansar as asas
Tem a palmeira, a baunilha.

Tem a palmeira, a baunilha,
Tem o brejo, a lavadeira,
Tem as campinas, as flores,
Tem a relva, a trepadeira,

Tem a relva, a trepadeira,
Todas têm os seus amores,
Eu não tenho mãe nem filhos,
Nem irmão, nem lar, nem flores".

Às vezes eu me sinto como a garça triste, e sinto inveja da araponga errante que voa livre pro seu lar, pro seu ninho. Às vezes eu sinto vontade de largar tudo e voar livre pra casa, também. 

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Roseira

Faz tanto tempo que não escrevo nada aqui... Suspeito até que perdi o jeito, mas, vamos lá!

Ontem sonhei que passava por um jardim enorme e diverso.
Eu não seria capaz, porém, de descrevê-lo com precisão. Era de uma beleza grande demais para ser descrita com palavras. Havia, se muito, uma ou duas plantas de pouca beleza, e estas quase não eram notadas, tamanho era o espetáculo que as cercava.
Bem no canto havia uma roseira. Não a notei logo a princípio. Ela ficou em seu canto, na sua, e por fim, a vi. Era realmente muito linda, e exalava um perfume tão puro que me fez feliz quase instantaneamente.
Era tão pura, tão simples e bondosa que a amei assim que coloquei meus olhos nela.
Eis aí o grande problema que toma meus pensamentos. A roseira me olhou nos olhos e por um segundo achei que ela também me amava, no outro achei que não. E assim entre olhares ficou a minha vida... O mesmo olhar que me parte o coração, um minuto depois me enche de esperança e trás de volta ao sol a luz que ele mesmo roubou.
E me pego com ciúmes da roseira que não me pertence. E me revisto de alegria quando um vento trás seu cheiro pra perto de mim. E meus olhos sorriem em resposta aos seus olhares, e às suas palavras. E mesmo nessa confusão de ciúmes, tristeza, alegria e esperança... Eu a amo, plena, profunda e desgraçadamente.

                                                                                                         Érica Rodrigues