quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Djavan

Essa música que se segue é de uma poesia incrível, e me atrai por falar do amor:

Faltando um Pedaço

Composição: Djavan
 
O amor é um grande laço, um passo pr'uma armadilha
Um lobo correndo em círculos pra alimentar a matilha
Comparo sua chegada com a fuga de uma ilha:
Tanto engorda quanto mata feito desgosto de filha

O amor é como um raio galopando em desafio
Abre fendas cobre vales, revolta as águas dos rios
Quem tentar seguir seu rastro se perderá no caminho
Na pureza de um limão ou na solidão do espinho

O amor e a agonia cerraram fogo no espaço
Brigando horas a fio, o cio vence o cansaço
E o coração de quem ama fica faltando um pedaço
Que nem a lua minguando, que nem o meu nos seus braços.


Vocês podem ouvir essa música na parte de cima deste Blog. 

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

0 Acendedor de Lampiões

Essa é a minha primeira postagem sobre poesia, e eu quis começar por Jorge de Lima por que ele não é tão conhecido quanto outros como Vinícius e Drummond, e por que eu gosto muito da obra dele. Esse soneto que se segue eu ouvi pela primeira vez em uma aula de literatura, e me apaixonei, pois achei singelo e puro. Espero que gostem:

                              0 ACENDEDOR DE LAMPIÕES




Lá vem o acendedor de lampiões da rua!
Este mesmo que vem infatigavelmente,

Parodiar o sol e associar-se à lua
Quando a sombra da noite enegrece o poente!

Um, dois, três lampiões, acende e continua
Outros mais a acender imperturbavelmente,
A medida que a noite aos poucos se acentua
E a palidez da lua apenas se pressente.

Triste ironia atroz que o senso humano irrita: -
Ele que doira a noite e ilumina a cidade,
Talvez não tenha luz na choupana em que habita,

Tanta gente também nos outros Insinua
Crenças, religiões, amor, felicidade,
Como este acendedor de lampiões da rua!

O que eu mais gosto nessa poesia é que ela fala de alguém que leva luz, felicidade, para as outras pessoas, mesmo não tendo isso onde habita, ou dentro de si.

domingo, 26 de setembro de 2010

Amigos

Meus dois textos preferidos sobre amizade são um do Oscar Wilde, e o outro é um trecho do livro Aos Meus Amigos da Maria Adelaide Amaral. Acho que eu gosto deles porque eles descrevem a amizade e os amigos de uma forma que me faz lembrar os meus. Então, eu espero que vocês apreciem, e possam lembrar também dos seus amigos ao lê-los:

"Meus amigos são todos assim: metade loucura, outra metade santidade. Escolho-os não pela pele, mas pela pupila, que tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante. Escolho meus amigos pela cara lavada e pela alma exposta. Não quero só o ombro ou o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos. Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos, nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice. Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto, e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou, pois vendo-os loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a normalidade é uma ilusão imbecil e estéril."
(Oscar Wilde)

***

"- Sinto saudade do tempo que a gente era amigo.
- Eu também. Tenho saudade das piadas idiotas, da vida de todos passada a limpo, daquela espécie de adolescência revivida, do afeto que nos unia, da família que éramos. Quando nos separamos eu perdi a família. Nós temos que ficar juntos. Nós, que apesar de todas as diferenças nos queremos tanto, por tudo que vivemos, pela cumplicidade que muitas vezes não é verbal, mas que se expressa na nossa afetividade, na agressão, no carinho que temos uns pelo outros, que é o carinho pela nossa juventude, nós não podemos romper, nos afastar."

(Maria Adelaide Amaral)



Bom, essa postagem eu dedico aos meus amigos: Sabrina Lucena, Denise Bernardes, Rodrigo Otávio, Fábio Araújo, Marlos Leite, Anderson Kelvin, Jacqueline Gomes, Débora Portela, Jathy Cristal, Jandelson, Erilan, Charllene Oliveira, Karen Bianca, Karine Kely, Carol Monteiro, Daniel Cavalcanti, Lucas Vinícius, Monique D’Angelo e Bruna Melo.
 

Caetano Veloso

Os meus pais sempre gostaram muito do Caetano Veloso, e ele foi presença indispensável na minha casa, desde sempre. Existe uma música dele chamada Trem das Cores, que eu adoro, porque ele consegue descrever muito bem a paisagem e as cores vistas em uma viagem de trem. Eu, desenhista, sempre fui apaixonada por cores, então está aí, espero que gostem:


Trem das Cores

Composição: Caetano Veloso

A franja na encosta
Cor de
laranja
Capim rosa chá
O
mel desses olhos luz
Mel de cor ímpar
O
ouro ainda não bem verde da serra
A
prata do trem
A
lua e a estrela
Anel de turquesa
Os átomos todos dançam
Madruga
Reluz neblina
Crianças
cor de romã
Entram no vagão
O
oliva da nuvem chumbo
Ficando
Pra trás da manhã
E a seda
azul do papel
Que envolve a
maçã
As casas tão verde e rosa
Que vão passando ao nos ver passar
Os dois lados da janela
E aquela num tom de
azul
Quase inexistente, azul que não há
Azul
que é pura memória de algum lugar
Teu cabelo
preto
Explícito objeto
Castanhos lábios
Ou pra ser exato
Lábios cor de
açaí
E aqui,
trem das cores
Sábios projetos:
Tocar na central
E o céu de um
azul celeste, celestial.

Essa música pode ser ouvida em: http://letras.terra.com.br/caetano-veloso/43883/

Crônica de Drummond

Essa crônica do Carlos Drummond, eu li pela primeira vez em um livro que reunia várias cônicas do autor, e me chamou a atenção por ela ser engraçada e realista:


A Estranha (e eficiente) Linguagem dos Namorados


– Oi, meu berilo!
– Oi, meu anjo barroco!
– Minha tanajura! Minha orquestra de câmara!
– Que bom você me chamar assim, meu pessegueiro-da-flórida!
– Você gosta, minha calhandra?
– Adoro, meu teleférico iluminado!
– Eu também gosto muito de ser tudo isso que você me chama!
– De verdade, meu jaguaretê de paina?
– Juro, meu cavalinho de asas!
– Então diz mais, diz mais!
– Meu oitavo, décimo, décimo quinto pecado capital, minha janela sobre a Acrópole, meu verso de Rilke, minha malvasia, meu minueto de Versailles.
– Mais, agapanto emu, tempestade minha!
– Minha follia con variazoni, de Corelli, meu isto-e-aquilo enguirlandado, meu eu anterior a mim, meus diálogos com Platão e Plotino ao entardecer, minha úlcera maravilhosa!
– Ai que lindo, liiiiiindo, meu colar de cavalheiro inglês num retrato de Ticiano! Meu fundo-do-mar, você me põe louca, louca de amar as pedras, de patinar nas nuvens!
– E eu então, minha górgone, minha gárgula de Notre Dame, e eu, minha sintaxe de Deus?
– Você fala como falam os balões de junho de Portinari, as jóias da coroa do reino de Samarcanda, você, meu imperativo categórico, você, minha espada maçônica, você me mata!
– E você também me trucida, me degola, me devolve ao estado de música, meu tambor de mina!
– Todos os incentivos oficiais reunidos e multiplicados não valem a tua alquimia, meu ministro do fogo!
– Tuas paisagens, teu subsolo infernal, teus labirintos são superiores em felicidade a qualquer declaração dos direitos do homem!
– A primeira vez que eu vi você naquele bar do crepúsculo eu senti que as pirâmides e as cataratas não valiam a tua unha do dedo mindinho! Porque você é o Banco das estrelas, e pode comprar todas as coisas do mundo, inclusive as águas e os animais, para restituí-los à vida em liberdade! Como posso ouvir outras palavras senão as tuas, meu almanaque do céu? Minha ciência do insabível? Meu terremoto, meu objeto voador identificado?
– E nascemos um para o outro, nascemos um no outro, e estamos nessa desde antes do começo dos séculos, meu nenúfar!
– E estaremos mesmo depois que os séculos se evaporarem, ó meu desenho rupestre, meu formigão atômico!
– Mandala, raio laser, sextina! Tudo meu, é claro!
– Pomba-gira!
– Clepsidra!
– Sequóia minha minha minha!
Diálogo aparentemente louco, mas que dois namorados de imaginação mantêm todos os dias, com estas ou outras palavras igualmente mágicas. Não inventei nada. Apenas colecionei expressões ouvidas aqui e ali, e que me pareceram espontâneas, isto é, ninguém deve ter preparado antes o que iria dizer, de tal modo as palavras saíam entrecortadas de risos, interrompidas por afagos, brotando da situação. O amor é inventivo e anula os postulados da lógica. Ele tem sua lógica própria, tão válida quanto a outra. E os amantes se entendem sob o signo do absurdo – não tão absurdo assim, como parece aos não-amorosos. Já ouvi no interior de Minas alguém chamar seu amor de “meu bicho-de-pé” e receber em troca o mais cálido beijo de agradecimento.
Esta coletânea de frases de amor está aqui como introdução ao projeto não comercial de comemorações do Dia dos Namorados. Não para quelas sejam repetidas mecanicamente. Todo namorado que se preze deve inventar as besteiras líricas e deliciosas que a gente não diz para qualquer pessoa, só para uma, e só em momentos de pura delícia. Funcionam? E como?

(Carlos Drummond de Andrade, Boca de Luar)




Vocabulário
· berilo: pedra semipreciosa.
· tanajura: nome dado às fêmeas ou rainhas da família das formigas.
· calhandra: sabiá do campo.
· jaguaretê: tipo de pantera.
· malvasia: uva muito doce.
· minueto: antiga dança francesa.
· agapanto: erva ornamental de flores brancas ou roxas.
· górgone: personagem mitológica.
· gárgula: buraco por onde se escoa a água de uma fonte.
· imperativo: necesidade, imposição.
· categórico: claro, explícito.
· crepúsculo: luminosidade do amanhecer.
· nenúfar: plantas da família das ninfeáceas.
· rupestre: esculpido na rocha.
· postulados: princípio não demonstrável.

Os Traços de Monet

 Eu sempre fui apaixonada pela leitura, e foi lendo uma revista da estante de livros da minha mãe, ainda criança, que eu vi pela primeira vez uma tela de Claude Monet. Desde então fiquei encantada com as pinturas, depois, lendo sobre ele na internet, descobri que os jardins que ele retrata existem, e ficam no quintal da casa dele em Giverny, França.
Minha mãe é pintora e eu herdei dela o gosto pela arte de boa qualidade, apesar de não ter herdado o dom de pintar. Por isso resolvi postar algo aqui sobre arte, pensei em colocar telas de Da Vinci, mas preferi Monet pela qualidade e suavidade de suas obras e por ele não ser tão conhecido como o primeiro.
Esta foi a primeira tela dele que eu vi, ainda criança:


O jardim em Argenteul, 1873 (Le Jardim de Monet à Argenteul - les Dahlias - óleo sobre tela):


Impressão, Nascer do Sol (Impression Soleil Levant), Claude Monet


Pintura de Monet, seu jardim em Argenteuil:


O Pequeno Príncipe

O fragmento a seguir é do meu livro preferido, O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry:

E foi então que apareceu a raposa:
—Bom dia, disse a raposa.
— Bom dia, respondeu polidamente o principezinho.
— Quem és tu? Tu és bem bonita...
— Sou uma raposa, disse a raposa.
— Vem brincar comigo, propôs o principezinho. Estou tão triste.
— Eu não posso brincar contigo, disse ela. Não me cativaram ainda
—Que quer dizer "cativar" ?
— É uma coisa muito esquecida, disse a raposa. Significa "criar laços..."
— Criar laços ?
—Tu és ainda para mim um garoto igual a cem mil outros garotos.
E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens também necessidade de mim.
Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas se
tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim ÚNICO no mundo. E eu serei para ti única no mundo...
E a raposa continuou:
— Minha vida é monótona. Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros.
Os outros passos me fazem entrar debaixo da terra.
O teu me chamará para fora da toca, como se fosse música.
E depois, olha!
Vês, lá longe, os campos de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelos cor de ouro. Então será maravilhoso quando me tiveres cativado. O trigo, que é dourado, fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo...
— Por favor... cativa-me! - disse a raposa.
— Bem quisera, disse o principezinho. Mas tenho pouco tempo
e amigos a descobrir e coisas a conhecer.
— A gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa.
Os homens não têm mais tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo pronto na lojas. Mas como não existem lojas de amigos, eles não têm mais amigos.
Se tu queres um amigo, cativa-me !
— Que é preciso fazer ?
— É preciso ser paciente. Sentarás primeiro longe. Eu te olharei e tu não dirás nada.
A linguagem é fonte de mal-entendidos.
Mas cada dia sentarás mais perto... E virás sempre na mesma hora. Se tu vens às 4, desde às 3 eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. Às 4 horas, então, eu estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade.
Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar o coração...
Assim, o principezinho cativou a raposa.
Mas, quando chegou a hora da partida, a raposa disse:
— Ah! Eu vou chorar.
— A culpa é tua, disse o principezinho. Eu não queria te fazer mal, mas tu quiseste que eu te cativasse...
— Quis.
— Mas tu vais chorar !
— Vou.
—Então não sais lucrando nada!
—Eu lucro, por causa da cor do trigo.
[...]
—Adeus, disse ele.
— Adeus, disse a raposa.
—Eis o meu segredo: Só se vê bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos. Foi o
tempo que perdeste com tua rosa que a fez tão importante.
Os homens esqueceram essa verdade, mas tu não a deves esquecer.
Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

O Som que vem da Itália

Um dos meus estilos musicais favoritos é a música italiana, pela beleza das letras e pela suavidade da melodia , então resolvi colocar aqui um trecho de uma música que se chama La vita è adesso (A vida é agora), composição de Claudio Baglioni, que ficou conhecida aqui no Brasil na voz do Renato Russo:


"La vita è adesso
Nei pomeriggi appena freschi
Che ti viene sonno e le campane
Girano le nuvole e piove
Sui capelli e sopra i tavolini
Dei caffè all'aperto
E ti domandi incerto chi sei tu


Sei tu, sei tu, sei tu,


Sei tu che spingi avanti il cuore, ed il lavoro duro
Si essere uomo e non sapere, cosa sarà il futuro
Sei tu, nel tempo che ci fa più grandi e soli in mezzo al mondo
Con l'ansia di cercare insieme, un bene più profondo"




Tradução:


"A vida é agora,

Nas tardes apenas frescas
Que te vem o sono e os sinos
girando as nuvens e chove
sobre os cabelos e nas mesinhas
dos cafés ao ar livre,
E te perguntas incerto: quem você é?


É você, é você, é você


É você que empurra para frente o coração, e o trabalho duro
De ser gente e não saber o que será o futuro;
É você no tempo que nos faz maiores e sozinhos no meio do mundo,
Com a ânsia de procurar juntos um bem mais profundo"

Essa música pode ser ouvida em: http://letras.terra.com.br/renato-russo/96524/traducao.html

Amor, segundo Shakespeare

"Amor quando é amor não definha
E até o final das eras há de aumentar.
Mas se o que eu digo for erro
E o meu engano for provado
Então eu nunca terei escrito
 
Ou nunca ninguém terá amado."

William Shakespeare

Shakespeare

Eu sempre gostei muito de Shakespeare, por ele expressar de forma  muito realista a vida, o amor. Então, existem dois trechos de sua peça Macbeth que falam sobre a vida:


A VIDA NÃO É MAIS
QUE UMA SOMBRA QUE PASSA .
UM POBRE PALHAÇO QUE SE PAVONEIA
E SE AGITA UMA HORA EM CENA,
E, DEPOIS, NÃO SE OUVE MAIS FALAR DELE.

A VIDA É UMA HISTÓRIA
CONTADA POR UM IDIOTA,
CHEIA DE SOM E DE FÚRIA,
SIGNIFICANDO NADA 
” 
Macbeth, ato V, cena V

Há quem diga que ele é muito pessimista, no entanto, na minha humilde opinião, a vida é isso, e é por isso que nós estamos sempre procurando uma forma de sermos lembrados para sempre.