terça-feira, 8 de setembro de 2020

8 de dezembro

Lembro que da primeira vez que te vi me senti intimidada pela tua aura intelectual e extrovertida. 

Eu não sabia que dava pra ser as duas coisas ao mesmo tempo. 

A eterna menina do canto da sala ficou encantada com toda aquela luz e inteligência.


Eu sempre tive ganas de te desbravar. 

Queria entender o que passava numa mente que diz coisas tão fascinantes. 

Queria saber como canalizar a minha energia vital esbravejando piadas-cabeça que fazem rir até quem não as entende.

Acima de tudo, queria poder estar mais próxima de ti. Queria poder pra sempre segurar as tuas mãos sedosas entre xícaras de café e pratos de cartola e rir, rir, rir...


Te pesquisei no Google com poucos resultados. Você não deixa rastros virtuais. 

Talvez acabe virando o novo Jayme Ovalle, uma presença silenciosa (ou nem tanto) entre os holofotes, mas muito mais brilhante do que eles.


Descobri que o seu programa na rádio ia ao ar hoje e ouvi pela internet. 

Que vazio de saudade ao te ouvir e sentir que você vive, respira e palpita.

A tua voz me lembrou um passado que enterrei bem fundo.

Eu não queria te enterrar com ele, mas a dor era tanta que precisei deixar tudo pra trás.


Nos últimos tempos me senti visceralmente sozinha e roguei por um amigo.

Então você veio, num sonho, e me fez rir. 

Acordei com um vazio quente no peito, daquela saudade risonha que dói mais do que todas as outras.


Não aguentei, me traí e te escrevi.

Você não sabe quantas lágrimas derramei ao digitar aquelas palavras.

Saíram aos borbotões, como se alguém as ditasse no meu ouvido...


Passei o dia num torpor nem feliz, nem triste.

Um torpor de saudade boa e profunda.

Escrevi essas palavras (que você certamente achará piegas) para desafogar o coração...


Não sei o que passou nos últimos tempos, amigo

A minha memória me falha e agradeço a bondade dela

Me perdoa por algo que disse ou fiz, mas não me lembro.

Dos últimos 10 anos nessa cidade alheia, você foi o único que nunca me feriu

Queria poder retribuir a gentileza.



Érica Rodrigues

08 de setembro de 2020 às 20h52




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