domingo, 17 de maio de 2015

Janta

Só podia ser o destino. Desde a forma como as coisas se desenrolaram para que aquelas duas pessoas acabassem juntas, até o par improvável, mas perfeitamente completo, que os dois formavam. Tudo levava a crer que fora o destino, com suas peripércias, que os trouxe até ali.
 À primeira vista, um observador desavisado provavelmente não seria capaz de ver muitos motivos para aquele relacionamento. Afinal, o que aqueles dois tinham em comum? Talvez apenas o encanto por descobrir e compartilhar coisas novas. Mas os dois sabiam que o ponto era esse.
Poderiam conversar por horas sem nunca faltar assunto, pois os seus mundos eram tão diversos e fascinantes que sempre havia experiências a dividir, novidades a contar, coisas a ensinar.
Entre eles não havia aquela disputa própria dos egos jovens, de quando alguém vem cheio de animação compartilhar uma descoberta sensacional, e recebe como resposta apenas aquele tradicional e desinteressado "legal, mas você devia conhecer na verdade isso aqui, pois é maravilhoso!".
Nada além do destino poderia ter reunido aquelas almas afins, tão diferentes e tão perfeitas entre si. Nada além dele, com seu poder supremo, poderia separá-las. Já estava escrito o quanto eles seriam felizes e quantas lágrimas seriam derramadas. E a cada lágrima, restava a dúvida se seria aquele o dia que o destino reservou para separá-los.
Mas hoje, sentados naquela mesa de jantar, com desconhecidos à sua volta, o futuro parecia nebuloso. Olhando assim, ela conseguia ver felicidade a perder de vista, com algumas ocasiões extremamente dolorosas aqui e ali. Mas afinal de contas, o que é a felicidade? Será um sentimento constante e diário, ou a certeza de que somando-se os dias bons e ruins, o saldo nos traz um sorriso nos lábios?
Olhando para ela e seu sorriso fácil, ele não conseguia conceber o que seriam os dias sem aquela presença solar para iluminá-los. A quem iria recorrer depois de um dia estressante de trabalho? Com quem iria conversar todas as noites? Eram perguntas impossíveis de responder.
Mas o garçom traz a janta e os dois engatam em uma conversa animada sobre seus fins de semana e um filme que passou na TV. O futuro, com seu caráter assustador, pode esperar. O destino que se encarregue de guiá-los. A preocupação com a felicidade futura não pode impedi-los de aproveitar a euforia de estarem juntos hoje.





 Destino: do grego, destinare, ou "aquilo que é firmemente estabelecido para uma pessoa".

2 comentários:

  1. Deambulei por aqui.
    E, desejo felicidades.
    MANUEL

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  2. Porque realmente quando duas almas gémeas se encontram é o cabo dos trabalhos :)
    Gostei e obrigado!

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