Pode parecer clichê, mas há um bom tempo que venho falando que queria escrever um texto sobre coisas que eu aprendi durante a vida, então lá vai:
Aprendi que macacos molhados cheiram mal.
Aprendi que a língua de um boi é áspera.
Aprendi que peixes gostam de comida, mas não muita comida.
Aprendi que se você tira uma folha de uma formiga, ela não aceita a folha de volta.
Aprendi que a escola pode ser o lugar mais legal do mundo, e também o mais assustador.
Aprendi que não se deve queimar uma corda em um lugar fechado.
Aprendi que você não precisa saber a tabuada para se formar.
Aprendi que meus pais fizeram coisas que não querem que eu faça.
Aprendi que não devo dizer que vou bombardear o colégio, mesmo que seja brincadeira.
Aprendi que quando a gente tem 11 anos, faz coisas muito idiotas.
Aprendi que não se deve cantar durante a aula de história, ainda mais se for a turma toda cantando.
Aprendi que alguns professores são uns demônios, mas outros são muito legais.
Aprendi que com o tempo a gente desencana das implicâncias da infância.
Aprendi a saber quando a correia de um ônibus tora.
Aprendi que queimaduras de água-viva doem pra caramba.
Aprendi que os seus amigos um dia seguem o seu rumo.
Aprendi que o meu avô é uma criatura fascinante.
Aprendi que pirralhos são irritantes.
Aprendi (minha irmã me contou) que miojo com feijoada enlatada dá azia.
Aprendi que você percebe o quanto ama a sua casa, quando vai morar fora dela.
Aprendi que seus pais mudam pra melhor quando você vai morar longe.
Aprendi que dinheiro VOA quando se mora sozinho.
Aprendi que a inflação em João Pessoa é um negócio assustador.
Aprendi que não se deve adoecer longe de casa.
Aprendi que não se deve colocar polidor de alumínio no fogão.
Aprendi que você deve se livrar do lixo o mais rápido possível.
Aprendi que um tapuru só morre queimado, ou com um palito. (não me perguntem como eu aprendi isso, não vai ser legal explicar)
Aprendi que é mais seguro andar em João Pessoa olhando para o chão.
Aprendi que não dá pra comprar leite condensado nos Bancários em um domingo a tarde.
Aprendi que a universidade é um mundo a parte.
Aprendi que quem tem boca vai mesmo a Roma.
Aprendi que as monografias no CCJ são organizadas de acordo com o primeiro nome do autor. oO
Aprendi que há no mundo sim, pessoas tão ruins quanto eu, e até piores.
Aprendi que os mineiros jogam peteca oO
Aprendi que os pedestres mineiros fecham o sinal de transito, haha.
Aprendi que todo mundo toma cerveja em BH.
Érica Rodrigues
domingo, 29 de maio de 2011
sexta-feira, 27 de maio de 2011
Leão do Norte
Talvez porque eu estou com uma saudade danada de casa; talvez porque eu estava cantando essa música na universidade, com um amigo e conterrâneo, um dia desses; talvez pelos dois, vou escrever hoje sobre uma composição de Lenine e Paulo César Pinheiro, intitulada "Leão do Norte" que fala sobre Pernambuco.
Faz um tempinho já que venho querendo fazer esse texto, mas sempre me faltava inspiração, hoje porém me deu uma doida e cá estou.
Acho que pernambucano é um cara bairrista por natureza.
Estou roubando as palavras de um amigo, (espero que ele não se importe, rsrs) mas quem é de pernambuco sempre leva pernambuco consigo pra onde vai; leva no coração, na lembrança, em uma camisa, uma bandeira (os mais chatos, como eu, levam no coração, na lembrança, na camisa e na bandeira, mas deixa quieto).
E eu acredito que esse bairrismo é bom, valoriza a cultura e o lugar.
É importante que o povo ame o seu estado e veja, reconheça e aprecie o que nele tem de bom.
Dom Helder Câmara diz em uma crônica de seu livro Um olhar sobre a cidade: "Um pernambucano da gema pode ouvir Vassourinhas, sem estremecer?" Eu não sei responder pelos outros ao D. Helder, mas eu não consigo, rsrs.
Bom, já falei caraminholas demais, agora vamos à música. Segue o vídeo e a letra, abaixo.
Espero que gostem! :*
Leão do Norte
"Sou o coração do folclore nordestino
Eu sou Mateus e Bastião do Boi Bumbá
Sou o boneco do Mestre Vitalino
Dançando uma ciranda em Itamaracá
Eu sou um verso de Carlos Pena Filho
Num frevo de Capiba
Ao som da orquestra armorial
Sou Capibaribe
Num livro de João Cabral
Sou mamulengo de São Bento do Una
Vindo no baque solto de Maracatu
Eu sou um auto de Ariano Suassuna
No meio da Feira de Caruaru
Sou Frei Caneca do Pastoril do Faceta
Levando a flor da lira
Pra Nova Jerusalém
Sou Luis Gonzaga
E eu sou mangue também
Eu sou mameluco, sou de Casa Forte
Sou de Pernambuco, sou o Leão do Norte
Sou Macambira de Joaquim Cardoso
Banda de Pife no meio do Canavial
Na noite dos tambores silenciosos
Sou a calunga revelando o Carnaval
Sou a folia que desce lá de Olinda
O homem da meia-noite puxando esse cordão
Sou jangadeiro na festa de Jaboatão
Eu sou mameluco, sou de Casa Forte
Sou de Pernambuco, sou o Leão do Norte."
sexta-feira, 20 de maio de 2011
Esperas
Tudo começou quando eu era criança. Minto, começou desde sempre.
Na verdade, desde antes de eu nascer.
Lembro-me que toda semana eu ficava com o meu pai e minha irmã, escondidos em baixo do lençol da cama esperando a hora que mamãe ia chegar.
Ela abria a porta da casa sempre com o mesmo barulho, que era próprio dela; e diferente do de todo mundo. E nós ficávamos sem fazer barulho, escondidos, pra que ela pudesse procurar por nós.
Era assim uma vez a cada semana.
No começo eu me perguntava porque eu tinha que esperar 24 horas para poder ver a minha mãe de novo. Porém depois eu entendi que esse era o trabalho dela. E a partir daí, acho, me habituei a esperar.
Com o tempo eu comecei a entender que tinha que esperar por muitas coisas.
Lembro que todas as férias eu ficava na calçada da casa dos meus avós, sentada no colo de vovô, esperando a hora que o meu tio ia chegar de viagem. Às vezes ele demorava, mas sempre valia a pena a espera. A recompensa era boa. E eu me sentia tão feliz quando via o carro parando da porta; e ele descia e me abraçava. E tudo ficava melhor.
Depois, quando a minha irmã entrou na escola, eu chorava todos os dias pedindo pra mamãe me deixar ir também. E ela sempre me dizia a mesma coisa. Me dizia que eu tinha que esperar, que quando eu ficasse maior poderia ir também.
Quando entrei na escola, aprendi que as esperas não tinham acabado.
Como a escola era em outra cidade, no final de semana eu sempre tinha que esperar para ver os meus amigos novamente na segunda. E nas férias eu escrevia cartas para as amigas, cartas que quando leio agora me dão muita saudade.
Depois os amigos foram seguindo seus caminhos, alguns mudaram de cidade, outros de escola. E então comecei a ter que esperar bem mais que um fim de semana para vê-los. Semanas, meses, anos... As esperas nunca acabavam.
Por fim eu mudei de cidade. E as esperas passaram a ser bem mais duras e ásperas.
A espera para voltar pra casa é a pior de todas. A falta que sinto da família, da minha casa, do lugar, do clima, da vegetação, do frio e do céu estrelado é quase inominável.
E outras esperas foram conseqüência dessa.
Agora espero por notícias de amigos tão queridos que não sei nem explicar.
Espero sempre abrir o e-mail e ter uma resposta, mesmo que de poucas linhas, contando coisas por muitas vezes triviais. Mas ainda assim, respostas que sei que foram digitadas por mãos amigas. Mãos que eu segurei por muitas vezes; e que por muitas outras me foram estendidas quando precisei.
Agora estou aqui. Espero para falar com um amigo, e esperarei sempre, quantas vezes for preciso. Porque o bom das esperas é que quando acabam, a recompensa é maravilhosa.
Érica Rodrigues
quinta-feira, 19 de maio de 2011
Étoile Filante
Eu estou feliz.
Hoje a terra completa uma volta em torno do sol, partindo do dia em que eu vi pela primeira vez uma estrela cadente.
A felicidade que senti quando a vi foi muito parecida com a que sinto agora... Grande, contagiante, e sem explicação.
Ela era realmente muito bonita, e se destacou tanto nesse céu de poucas estrelas que temos por aqui; tão diferente do céu estrelado da minha terra natal.
Acredito que não foi só a sua beleza que se destacou, acredito que foi mais a beleza que ela fez nascer dentro de mim. Pelo que pude perceber, é sempre assim com as estrelas cadentes.
Depois de um tempo ela passou. Foi embora, como era de se esperar. Mas acredito que quando vemos uma estrela desse tipo, sempre fica um pouquinho dela conosco. E sempre vale a pena. E sempre podemos lembrar dela. E sempre podemos ficar felizes novamente.
Ontem achei que tinha visto novamente uma estrela cadente. Estava enganada. Era apenas uma estrela muito mais bonita que as outras que a cercavam. Acabei me empolgando.
Porém essa visão de ontem me abriu um novo horizonte. Me fez lembrar da felicidade que a primeira estrela cadente deixou dentro de mim. Me fez lembrar como a gente pode ser feliz. Me fez lembrar como a vida é bonita. Como o céu é bonito. Como a lua é linda. Como um sorriso é importante. Como o barulho da chuva batendo na janela é agradável.
Érica Rodrigues
Érica Rodrigues
domingo, 1 de maio de 2011
O Bêbado e a Equilibrista
Ainda existe esperança. Hoje acordei com os meus vizinhos ouvindo Elis Regina, e fiquei feliz em saber que ainda há quem ouça música de qualidade nesse país.
Esse episódio, no entanto, me trouxe a vontade de escrever sobre essa música da Elis, "O Bêbado e a Equilibrista".
A música trata do período da Ditadura Militar brasileira, e é de composição do João Bosco e do Aldir Blanc. Já vi muita gente cantar e ouvir essa música sem saber na verdade o que ela significa; por isso segue a letra comentada:
O Bêbado e a Equilibrista
Caía a tarde feito um viaduto
“Caía a tarde” faz referência ao horário que começavam as torturas no DOI-CODI, geralmente ao cair da tarde. “Feito um viaduto” se refere à queda de parte do Viaduto Paulo Frontin, obra do governo, no Rio de Janeiro, que caiu em 1971 e deixou 48 mortos.
E um bêbado trajando luto
Me lembrou Carlitos...
Me lembrou Carlitos...

A lua
Tal qual a dona do bordel
Pedia a cada estrela fria
Um brilho de aluguel
Tal qual a dona do bordel
Pedia a cada estrela fria
Um brilho de aluguel
Bom, a interpretação desses versos é meio contraditória. Uns dizem que “A lua” é uma referência à Rede Globo, que cresceu às custas da ditadura. Outros, porém, dizem que se refere aos políticos que ficaram ao lado do regime militar em troca de benefícios pessoais.
E nuvens!
Lá no mata-borrão do céu
Chupavam manchas torturadas
Que sufoco!
Louco!
O bêbado com chapéu-coco
Fazia irreverências mil
Pra noite do Brasil
Lá no mata-borrão do céu
Chupavam manchas torturadas
Que sufoco!
Louco!
O bêbado com chapéu-coco
Fazia irreverências mil
Pra noite do Brasil
As “nuvens” fazem referência aos torturadores, que “chupavam manchas torturadas”, no caso, maltratavam, torturavam os presos políticos. Enquanto que “o bêbado com chapéu-coco” representa os artistas que “faziam irreverências mil” ou protestos, contra a ditadura, ou a “noite do Brasil”.
Meu Brasil!...
Que sonha com a volta
Do irmão do Henfil.
Com tanta gente que partiu
Num rabo de foguete
Do irmão do Henfil.
Com tanta gente que partiu
Num rabo de foguete
O “irmão do Henfil” é Betinho, um sociólogo e ativista dos direitos humanos que ficou exilado por oito anos. Henfil, irmão de Betinho, escrevia na última página da revista “Isto É”, cartas para a mãe dele; que falavam nas entrelinhas da vida política do país e da vontade de que seu irmão exilado retornasse ao Brasil.
Ele escreve em seu livro Cartas da mãe: “Aos poucos fui escrevendo o nome Geisel. Até ele se acostumar e não achar que era desrespeito. Depois fui tomando liberdade de sentar no colo dele, mexer nos bolsos dele. Quando ele viu, eu tinha pregado chicletes na cadeira dele. Aí, já era tarde. Aldir Blanc e João Bosco já cantavam pela voz de Elis: - Meu Brasil que sonha com a volta do irmão do Henfil...”
Chora!
A nossa Pátria
Mãe gentil
Choram Marias
E Clarisses
No solo do Brasil...
A nossa Pátria
Mãe gentil
Choram Marias
E Clarisses
No solo do Brasil...
“Choram Marias e Clarisses” é uma referência clara às esposas de Manuel Fiel Filho, e de Vladimir Herzog, o Vlado. Ambos foram presos políticos, que morreram na prisão; Manoel por torturas, e Vlado através de um suicídio mal forjado que revoltou o país.
Juntas, “Marias e Clarisses” são todas as esposas e mães brasileiras que viram seus filhos e maridos serem presos e torturados.
Mas sei, que uma dor
Assim pungente
Não há de ser inutilmente
A esperança...
Assim pungente
Não há de ser inutilmente
A esperança...
Dança na corda bamba
De sombrinha
E em cada passo
Dessa linha
Pode se machucar...
De sombrinha
E em cada passo
Dessa linha
Pode se machucar...
Azar!
A esperança equilibrista
Sabe que o show
De todo artista
Tem que continuar...
Esses últimos versos se referem à resistência feita pelos artistas, que tinham como arma única a arte. Tanto eles quanto a sociedade em geral viviam na corda bamba, podendo se machucar a qualquer momento, por pisar fora da linha estipulada pelos militares; porém, apesar de tudo, todos têm consciência de que o show tem que continuar.A esperança equilibrista
Sabe que o show
De todo artista
Tem que continuar...
- Segue um vídeo sobre a volta dos exilados políticos, retirado da minissérie Queridos Amigos; a música acima tratada é fundo musical deste:
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