domingo, 9 de fevereiro de 2014

Madureza

Deus me deu um amor no tempo de madureza. 
Sei que ou colho logo estes frutos 
Ou logo virão os vermes a lhes comer as entranhas.

Dizem que todo amor merece ter uma chance de florescer
Mas amor que nasce como erva daninha
Em cima de árvore velha e bonita
Merece?

Vais dizer, eu sei, que os frutos do amor no tempo de madureza
São doces
De fato. 
Tão doces que não consigo deixar de sorrir ao lembrar

Quão doces serão os frutos da árvore velha
Onde floresceu esta erva daninha?
Serão doces ainda?
Será que azedaram? 
Será que os vermes já comeram tudo?

Deus me deu um amor no tempo de madureza.
Como pode um amor trazer tanta inquietude? 

Parece-me que lá fora há dois milhões de habitantes
Como disse o poeta
E cá estou, só. 

Deus me deu um amor no tempo de madureza 
E que direito tenho eu de colher-lhe os frutos?

Melros cantam lá fora 
Já amanheceu.
A manhã, ingrata, trouxe tanta sobriedade...